As cenas de harmonia vistas durante a 18ª Caminhada em Memória dos Mártires do Massacre, na manhã de domingo (30), reacenderam a lembrança dos antepassados que sucumbiram no ano de 1559, durante a Batalha dos Nadadores do Rio Cururupe. Movidos por cânticos e cantos indígenas, marcharam contra o “marco temporal”, pela demarcação de terras e pela defesa da descriminalização dos povos indígenas. O encontro foi promovido pelos Tupinambás de Olivença, mas somaram-se a eles as comunidades Pataxó e Pataxó Hã-Hã Hãe.
Ao todo, cerca de 1.500 indígenas formaram um cortejo multicolorido que percorreu sete quilômetros, entre a Pracinha de Olivença e a Praia do Cururupe, à margem da rodovia BA-001. “Irmãos e parentes, todos juntos e misturados”, comentavam entre eles. Quem acompanhava a manifestação, tinha a sensação de que, por mais altos que fossem os gritos não pareciam ser ouvidos, a não ser por aqueles que gritavam. “Uma luta que não cessa”, outros afirmavam. Sob o sol, era possível ver mães de pele queimada que amamentam seus bebês de peito aberto enquanto desfilavam.
Tradição e luta – Com raízes em Olivença, o vice-prefeito de Ilhéus, José Nazal, representou o governo municipal na manifestação. A seu ver, a caminhada dos serve de reflexão e estudo da história não apenas regional, mas brasileira, através da luta indígena. “Essa é uma tradição que se renova, sobretudo, na perpetuação de uma luta secular. Há uma pretensão de ocuparem a demarcação de uma área e com isso, surge aí um conflito, e eles manifestam aqui, a busca de se encontrar um diálogo para este fim, o que seria o ideal”, destacou.
Aos poucos, reuniam-se aos indígenas, nativos, ativistas e turistas que tomaram a praia do Cururupe, para ouvir as lideranças discursarem. Nas suas falas, a reafirmação dos direitos básicos que estão invisíveis aos povos originários, assim como a maioria da sociedade organizada, que segundo as lideranças, desconhecem a existência dos indígenas em sua composição. Entre as manifestações, apresentaram a ‘Tohe Porancy’, dança típica da cultura, juntamente com ritual em memória dos mártires.
Uma das representes do movimento, cacique Maria Valdelice lembrou-se da Dona Nivalda, sua mãe, que morreu em abril último. Segundo ela, a anciã deixou uma história de luta por seu povo e um legado de liderança que a levou conquistar amigos e semear o diálogo na construção da paz e da harmonia. Ao final, a líder da Aldeia Itapoã manifestou: “Meus parentes, nossa luta não é interna”. Já Cláudio Tupinambá Magalhães, revela que a visão sobre os índios tem mudado com a posição deles na sociedade. “Temos conseguido nos firmar na sociedade e mostrar que ser indígena é fazer parte deste tempo social”, comentou.
Entre as lideranças presentes, Valdelice, Nerival, Ramon, Alício, Ivonete, Gildo, Rosevaldo, Val e o cacique Pataxó Aruan. O ato durou toda a manhã e início da tarde, e contou com a participação de autoridades políticas, representantes da Defensoria Pública do Estado da Bahia, Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) do Ministério da Saúde e a comunidade local. As polícias Militar e Rodoviária prestaram apoio durante o trajeto. O trânsito foi normalizado por volta das 13 horas.
Segundo os centros de pesquisas indígenas, o processo de luta ainda ocorre, pois com a mineração e a exploração dos recursos naturais. Segundo a história, os índios já habitavam no Brasil quando os portugueses chegaram em 1500. De lá para cá, o que se viu foi o desrespeito e a diminuição das populações indígenas. Em linhas gerais, o preconceito contra a cultura e costumes dos primeiros habitantes desse país, vem desde o Século XVI, com o trabalho dos jesuítas, que promoveu um aculturamento étnico.
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