quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Papa diz que bispos e padres submeteram freiras a escravidão sexual

O Papa Francisco conversa com repórteres no avião
 que o levou a Abu Dhabi no dia 3 de fevereiro de 2019
 Foto: TONY GENTILE / AFP
VATICANO - No avião que o levava de volta à Itália, depois da primeira visita da maior autoridade da Igreja Católica à Península Arábica, o Papa Francisco admitiu a jornalistas que padres e bispos abusaram sexualmente de freiras, um tema considerado tabu, que ele nunca abordara antes.
— Houve padres e também bispos que fizeram isso — reconheceu Francisco ao ser questionado por uma jornalista, que se referiu a uma matéria publicada em uma revista mensal do Vaticano.
Sem mencionar nomes, Francisco também afirmou que seu antecessor, Bento XVI, dissolveu uma congregação “porque a escravidão se tornara parte da congregação, mesmo a escravidão sexual por parte de padres e de seu fundador”.
— Trabalhamos por muito tempo sobre este assunto. Suspendemos vários clérigos, que foram despedidos por isto — afirmou Francisco, sem mencionar nomes nem países. — Não sei se o processo (canônico) terminou, mas também dissolvemos algumas congregações femininas que estiveram muito vinculadas a esta corrupção.
Ele não especificou qual foi a congregação, mas o porta-voz do Vaticano, Alessandro Gisotti, disse que era uma ordem francesa, dissolvida por Bento XVI pouco depois de se tornar Papa em 2005.
O pontificado de Francisco foi marcado por esforços para mitigar uma crise global de escândalos sexuais, sobretudo contra crianças, por parte do clero.
Recentemente, diversas freiras, encorajadas pelo movimento #Metoo, começaram a vir a público denunciar abusos sofridos por padres e bispos. No ano passado, a União Internacional de Madres Superioras, que representa mais de 500 mil freiras, conclamou suas integrantes a denunciar abusos.
Na avaliação de Francisco, é possível encontrar registros deste tipo de violência "em todas as partes", mas ela está mais presente em "algumas congregações novas e em algumas regiões".
O Pontífice convocou um encontro para o final de fevereiro no Vaticano, em busca de uma resposta única que previna o abuso sexual contra crianças. Ele disse que a Igreja também deseja desenvolver uma política semelhante para proteger freiras.
— Quero seguir adiante. Estamos trabalhando nisso — afirmou.

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