segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Os clínicos veterinários e a responsabilidade com a vigilância de zoonoses

Tatiani V.Harvey 
Médica Veterinária 
Doutora em Parasitologia/UESC
CRMV/BA 04034
A experiência numa Unidade de Vigilância de Zoonoses fez-me refletir muito sobre a parcela de responsabilidade dos clínicos veterinários no compromisso com a saúde pública. 
Ao longo da história da Medicina Preventiva Veterinária, os veterinários absorveram um leque muito grande de habilidades que foram se aperfeiçoando desde a clínica até a ferramenta chave da saúde pública, a epidemiologia. Desta forma, a diversidade do nosso currículo acadêmico torna esta profissão uma das mais bem preparadas para atuar no setor de saúde. Na verdade, veterinários são e sempre serão agentes de saúde pública! E esta posição foi, felizmente, reconhecida na Resolução MS no 287/1998, mas, infelizmente, questionada por muitos profissionais do setor, o que impede nossa inclusão nos programas de saúde em grande parte do Brasil, até hoje. No entanto, é sobre essa atribuição que eu gostaria de chamar a atenção dos colegas clínicos. 
Enquanto agentes de saúde, todos nós veterinários, independentemente de área de atuação, temos responsabilidades com a vigilância de zoonoses. Para isso, existe a exigência de notificação de doenças para o MAPA e para Ministério da Saúde! E aqui eu deixo algumas reflexões para os colegas: você conhece as zoonoses, em homens e animais, que circulam pelo município? Como você busca essa informação? Você discute sobre elas com colegas? O seu rol de diagnóstico diferencial passa apenas pelas zoonoses negligenciadas? Ou apenas pelas mais impactantes? Qual o encaminhamento que você dá aos casos positivos de zoonoses? Você sabe o que, como e onde notificar? Você sabe que vivemos em área de risco para a Raiva? Sabia que a maioria dos casos de Raiva em nossa região ocorrem em equídeos? Você sabe que Mormo e Dirofilariose (a doença do coração dos cães) também são zoonoses? Até onde está indo o seu compromisso com a saúde pública e o zelo pela saúde da sua comunidade, incluindo populações animais e humanas? Você tem conhecimento sobre a PORTARIA nº 1.271/2014, que trata das doenças de notificação compulsória para o MS ou a IN nº 50/2013, para o MAPA? 
Trago todos estes questionamentos porque entendo que a melhoria do sistema de vigilância, tanto sanitária quanto epidemiológica, depende fundamentalmente da informação e da comunicação ativa entre os diferentes segmentos da saúde. E nós veterinários somos uma parte importante de todo este contexto. Nossa classe precisa conversar, precisa atualizar-se, precisa discutir o contexto de saúde do nosso município. Quantas casos de zoonoses ocorrem à revelia por aqui? Quantas notificações deixam de compor as bases de dados, em todas as esferas de governo? 
Hoje, é fato que a resolução de problemas em saúde pública precisa passar pela via multissetorial. E isso significa comunicação! Informação! A vigilância eficiente só se concretiza no momento em que todos assumem os seus papéis. Nós, veterinários, precisamos assumir o nosso. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário