sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Bandeiras palpáveis

Tatiani V.Harvey 
Médica Veterinária 
Doutora em Parasitologia/UESC
CRMV/BA 04034
@tatiani_harvey
Deixando de lado a polêmica do lucrativo aquecimento global, a natureza e a população clamam, com fúria e desespero, pelo foco do poder público nos problemas locais.
Na última semana fui buscar, novamente, mais respostas e discussões sobre o impacto das mudanças climáticas sobre a Saúde Pública. Assisti a um seminário com um expert no assunto, com um currículo brilhante, alicerçado em universidades conceituadíssimas aqui na América. Obviamente, na minha área, fui atrás das discussões sobre as novas abordagens para a prevenção de zoonoses em desastres naturais, ou algo pelo menos relacionado a isto. Well, well, well... foi literalmente um desastre para mim. Não podia acreditar no altíssimo nível de superficialidade do que foi tratado! Inclusive nas respostas às diversas perguntas de dezenas de believers. Bem, estes mostraram-se satisfeitos com a propaganda...e em rever os gráficos consagrados pela índustria de créditos de carbono, claro. Nada novo, nada construtivo, nada sólido. 
Enfim, resolvi manifestar-me: Por que a ONU e todos os outros defensores do aquecimento global não estão focando nos microclimas? Há uma grande diversidade ambiental no planeta e, por isso precisamos entender os microclimas. Temperatura média não diz nada que subsidie o planejamento de ações para ambientes distintos. Precisamos entender o impacto local da atividade humana sobre as nossas comunidades, entender o impacto da atividade humana sobre o clima local, entender as causas dos desastres nos grandes centros. Falha no planejamento urbano? Mãos atadas da defesa civil? E não apenas isso. Usei como exemplos as enchentes atuais no Brasil. Como os efeitos da mudança climática local levam ao aumento da dispersão de doenças e agravos, tanto na população humana quanto na população animal? Por que o relatório do Instituto Blacksmith, em colaboração com a ONU, e que fala de poluentes altamente nocivos, e não apenas de gás carbônico e metano, não é ventilado e discutido na mídia, assim como o efeito estufa? Por que não estamos mais preocupados com a qualidade da água, que já é escassa em várias comunidades do mundo? 
Depois de toda esta colocação, em resumo, a resposta foi “Sim, precisamos começar a compreender os microclimas”. Eu tinha mais uma dezena de questionamentos. Mas, deixei assim. 
Ao meu ver, somos induzidos a pensar em problemas que tiram nosso foco dos problemas gigantes que existem em nossas comunidades. Aqueles que nenhum político tenta realmente resolver. Quem está levantando bandeiras pelo saneamento básico e pela conservação da água potável? Onde estão as discussões publicitárias sobre a contaminação ambiental causada pela mineração, pela fundição de chumbo, pela reciclagem das baterias dos carros, pelos curtumes, pela indústria do couro, das tintas, dos produtos químicos e farmacêuticos, etc? Quantas pessoas morrem ou adoecem em todos os cantos do mundo, em razão destes problemas básicos que nunca são resolvidos? 
O mundo precisa reavaliar suas lutas. Temos populações humanas e animais cada vez maiores, temos fenômenos naturais que ocorrem, independente da ação humana, a água potável já é escassa. Teremos alimento suficiente para todos? E quanto aos animais? Estamos pensando neles? Como a vida sustentável e saudável pode adaptar-se ao desenvolvimento urbano e prevenir-se dos desastres naturais? Como deixarmos de ser tão consumistas e de produzir tanto lixo? Estes são problemas palpáveis! Não levantemos bandeiras por hipóteses. 

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