quarta-feira, 18 de março de 2020

A saúde de Pimenteira

Dra. Tatiani Harvey
Médica Veterinária - Parasitologista
 @dra_tatiani_harvey
Continuando a série de colunas sobre a saúde dos distritos de Ilhéus, sigo com Distrito de Pimenteira. Este distrito, visto que muitos desconhecem a divisão administrativa de município, fica a noroeste, juntamente com os Distritos de Banco Central e Inema. 
A primeira queixa que ouvimos quando iniciamos nossas pesquisas na Pimenteira, foi o descaso da gestão pública com os distritos da região noroeste. Por serem distritos mais afastados da sede municipal, a deficiência de serviços, em especial a saúde, é suprida pelos municípios vizinhos. 
O distrito tinha uma população de pouco mais de 1000 habitantes. Segundo o Censo 2010, a maioria concentrava-se na área rural. No entanto, muitos moradores relataram a grande emigração das fazendas, desde a desvalorização do cacau. 
Apesar das sedes distritais serem, tecnicamente, classificadas como urbanas, a maioria delas têm perfil semirural, como é o caso de Pimenteira, que possui deficiências geosócioeconômicas similares às áreas rurais. 
Moradores reclamavam da sujeira da água das represas, fontes de água utilizada para os afazeres domésticos e de higiene pessoal. Vários animais tinham acesso a estas fontes, potencializando a contaminação da água com parasitas. Havia distribuição de cloro para o tratamento da água, mas muitos não sabiam da distribuição ou não tinham acesso ao produto. 
Pelas ruas, pavimentadas em parte, havia muitas fezes de cães, aves e equídeos, espalhadas pelo local. A população canina era pequena na sede, 81 cães. No entanto, a maioria tinha acesso livre às ruas e não era vermifugada, adequadamente. Nas fezes destes cães, detectamos a presença de Ancilostomídeos, que podem causar dermatopatias (bicho geográfico), além de doenças intestinais em humanos; Cryptosporidium, que causa doença diarreica em humanos; Toxascaris e Cystoisospora. 
Conforme as agentes de saúde, eram muito comuns os relatos de diarreia e dor abdominal em adultos e crianças. Nas últimas, identificamos parasitas intestinais como Giardia, Cryptosporidium, Ascaris lumbricoides, Enterobius vermicularis e Trichuris trichiura, os quais levam ao comprometimento do desenvolvimento físico e intelectual das crianças, especialmente, pelas constantes reinfecções. 
Detectamos, também, amebas não-patogênicas, como Entamoeba coli, Endolimax nana, Iodamoeba butschlii, os quais associam-se com à exposição a ambientes com sanidade precária, em cães e crianças. 
Tanto a presença de infecções parasitárias vinculadas a hábitos precários de higiene pessoal como alta exposição a ambiente contaminados exigem a implementação urgente de ações contínuas em Educação em Saúde, inclusive a nível escolar. 
A comunidade ficou um longo período sem assistência médica e de enfermagem. As próprias agentes de saúde davam andamento ao programa de acompanhamento do peso e altura das crianças, para não perderem os dados. Na verdade, as agentes de saúde mais prestativas e atenciosas com a comunidade, que conheci ao longo dos meus trabalhos pelas comunidades rurais. 
Há uma negligência muito evidente com as ruas de acesso à comunidade, o que impacta diretamente no serviço de transporte urbano. 
Enfim, estes são apenas alguns problemas a resolver por lá. E, não esquecendo, que as soluções dependem, imensamente, da relação da gestão pública com o administrador local, infelizmente. 

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