sexta-feira, 6 de março de 2020

Eleições 2020: Distrito de Inema x Saúde Pública

Dra. Tatiani Harvey
Médica Veterinária - Parasitologista
 @dra_tatiani_harvey
Legendas à parte, e consciente de que a maioria dos candidatos à gestão municipal acessam grande parte das comunidades ilheenses somente em época de eleição, deixo minha contribuição para aqueles que se interessam com a Saúde Pública dos distritos de Ilhéus, a partir desta coluna. 
Primeiramente, relembro aos leitores, minhas pesquisas científicas em 40 comunidades do município durante o último ano eleitoral, o que permite-me apontar diversos problemas negligenciados, ou nem se quer cogitados pela administração pública ao delinear suas ações em saúde. Assim, inicio com o Distrito de Inema, salientando o foco nas variáveis implicadas à área da saúde, obviamente. 
Em termos populacionais, observamos que a população humana local é inferior à apresentada na Tabela 2.8.16, da Sinopse do Censo Demográfico 2010. Segundo diversos moradores, a emigração era frequente, devido à dificuldade de acesso aos serviços, em geral. Grande parte dos imóveis pertencia a moradores de outras localidades, ou estavam abandonados. Assim como foi observado nos distritos de Pimenteira e Banco Central, uma grande parte da população é idosa. E há pessoas que nunca saíram da comunidade e contam apenas com os serviços oferecidos no local. Em relação a população canina, com a ajuda de agentes de saúde, contamos 153 animais, em sua maioria semirrestritos, ou seja, possuem tutores e acessam as ruas livremente, promovendo a contaminação intra e extradomiciliar com parasitas, uma vez que não são manejados com responsabilidade. Alguns tutores relataram que em algumas campanhas de vacinação contra a Raiva, muitos cães deixam de ser vacinados. “O carro da vacinação fica pouco tempo e só na praça! ”, relatou um morador. Há, também, criação de outras espécies domésticas e produtivas, as quais seus proprietários precisam de orientações sobre as implicações do processo produtivo à saúde. 
A fonte de água de consumo e para a realização de atividades domésticas é uma represa, a qual é acessada por cães, conforme relatos de vários moradores. Um deles relatou a morte de um bovino, próximo à represa. Este foi deixado lá até sua decomposição. 
Todas as casas estudadas não tinham fossa séptica (NBR 7229). Todas elas jogavam eliminavam seus dejetos através de um sistema de canos que escoava numa grande valeta, que contornava os peridomicílios. Esta, em época de chuva, inunda os quintais. Imagine a contaminação parasitária destes ambientes! Falando em doenças, detectamos casos de infecções por Giardia em crianças e cães. Esta infecção, comprovadamente, leva a atrasos no desenvolvimento físico e cognitivo, especialmente de indivíduos jovens. Pode ser transmitida através de água, alimento, animais e ambientes contaminados. Detectamos, também, a infecção dos cães com Ancilostomídeos, que podem tanto causar a Larva migrans cutânea (bicho geográfico) como a ancilostomíase, uma doença intestinal. 
Moradores e funcionários do Posto de Saúde, queixaram-se do desleixo e desmazelo que alguns agentes de saúde. Houve relatos de que algumas “desapareciam” durante o tempo de cumprimento da carga horária. Estranho! Assim como o fato de um deles pedir o número do meu cartão do SUS para que pudesse me ajudar a acessar as famílias locais. Claro que não dei! 
Enfim, apesar deste povoado ser um dos mais organizados e apresentar a maioria das ruas pavimentadas, como você pode observar, há bastante a resolver em termos de saúde. Na verdade, muitos pensaram que um prefeito médico e filho de ex-deputada não fosse ficar apenas no discurso. Esta última frase faz-me refletir sobre o valor de um gestor que conhece, detalhadamente, os problemas do município, e faz por eles, sobre um gestor apadrinhado pela máquina pública.

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