segunda-feira, 27 de abril de 2020

Cientista que ‘parou’ o covid-19 na Alemanha alerta que flexibilização pode provocar 2ª onda mais mortal

Christian Drosten, virologista alemão
(Et Urbs Magna) – Enquanto o Brasil vive um de seus maiores escândalos da política em toda a sua história justamente em meio à maior crise de Saúde mundial, a pandemia se eleva no mundo, parece estar fora de controle em nosso país e, especialmente por culpa de Bolsonaro, provavelmente inicia seu pico com cada vez mais mortes decorrentes da doença.
Já a Alemanha conseguiu ‘parar’ seu surto porque começou suas medidas de prevenção e quarentena bem cedo, quando as previsões de contaminação ainda eram meras especulações. Mas o diretor do Instituto de Virologia do Hospital Charité em Berlim, um dos cientistas que identificaram o vírus Sars em 2003, Christian Drosten, diz que uma flexibilização para volta à normalidade pode provocar uma segunda onda ainda mais mortal.
Em entrevista ao The Guardian, Drosten, que não dorme à noite por conta disso, fala sobre o assunto. O virologista diz que vive um “paradoxo da prevenção”, onde pessoas alegam que o plano posto em prática foi excessivo, o que está causando pressão política e econômica para a normalidade devido a redução de casos: “Temo que veremos muita criatividade na interpretação desse plano. Preocupa-me que o número de reprodução comece a subir novamente e teremos uma segunda onda“, diz o cientista que tem uma visão ampla do tema.
“Temos evidências de que quase metade dos eventos de infecção ocorre antes que a pessoa (que está transmitindo a infecção) desenvolva sintomas“, diz Drosten ao jornal inglês, complementando que os ‘rastreadores’ de identificação do vírus têm que “capturar todos aqueles potencialmente expostos o mais rápido possível“, o que só será possível com “rastreamento eletrônico de contatos“.
O cientista afirmou que uma parte da população “pode não estar disponível para infecção em um determinado momento. As redes mudam e novas pessoas são expostas ao vírus. Tais efeitos podem gerar ondas de infecção“. Mas o que o virologista considera ainda mais grave é a possibilidade de outros vírus que causam os resfriados comuns possam proteger o covid-19: “Nós não sabemos, mas é possível“.
Ainda de acordo com Drosten, as primeiras pessoas que têm os sintomas da doença na primeira semana, especialmente os idosos, devem agir rapidamente e não “quando seus lábios já estão azuis e precisam de intubação“. O cientista deixa claro que para a eficácia do controle de infecões é necessário “algum tipo de sistema de vigilância sentinela, para ‘amostrar’ a população regularmente e acompanhar o desenvolvimento do número de reprodução“.
“Outros coronavírus podem representar uma ameaça – um candidato principal é o vírus da síndrome respiratória do Oriente Médio (Mers) -, mas para entender essa ameaça, precisamos estudar como o vírus Mers está evoluindo em camelos no Oriente Médio“, afirmou o cientista sobre como poderá ser o futuro após a pandemia.
Drosten disse também que não se pode “descartar outra pandemia de coronavírus” exemplificando com a ocorrência do primeiro surto de Ebola, em 1976, quando “as pessoas pensaram que nunca mais voltaria, mas levou menos de 20 anos” para acontecer. E o cientista ainda se mostrou preocupado com a ‘má ciencia’: “Muitos recursos de pesquisa estão sendo desperdiçados. No início de fevereiro, havia muitas pré-impressões interessantes [artigos científicos que ainda não foram revisados ​​por pares]. Agora você pode ler 50 antes de encontrar algo realmente sólido e interessante“.
Christian Drosten diz que não dorme à noite porque, na Alemanha, que iniciará em breve sua flexibilização do isolamento, “as pessoas veem que os hospitais não estão sobrecarregados e não entendem por que suas lojas precisam fechar. Eles apenas olham para o que está acontecendo aqui, não para a situação em, digamos, Nova York ou Espanha. Esse é o paradoxo da prevenção e, para muitos alemães, sou o cara mau que está prejudicando a economia. Recebo ameaças de morte, que passo para a polícia. Mais preocupantes para mim são os outros e-mails, os de pessoas que dizem ter três filhos e estão preocupados com o futuro. Não é minha culpa, mas esses me mantêm acordado à noite.”

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