sexta-feira, 24 de abril de 2020

COVID-19: dados que os municípios não divulgam

Dra. Tatiani V. Harvey 
Médica Veterinária
Mestre e Doutora em Ciência Animal
Ênfase em Doenças Parasitárias
Parece que os prefeitos baianos e seus respectivos setores de vigilância epidemiológica, nos municípios com casos positivos de COVID-19, estão satisfeitos com seus singelos boletins epidemiológicos. Ou, talvez, haja um equívoco conceitual sobre a função deste instrumento. 
Boletins epidemiológicos vão além do quantitativo de casos confirmados, óbitos, pacientes recuperados, sob investigação e descartados. Os boletins divulgam os dados que nortearão as ações de prevenção e controle de quaisquer eventos em Saúde Pública. Para tal, é preciso questionar, coletar dados, processá-los, analisá-los e interpretá-los de maneira que este protocolo permita traçar as ações estratégicas ideais para confrontar as doenças. E a partir daí a vigilância, então, é capaz de avaliar a eficácia e a efetividade das suas medidas de controle aplicadas. 
Em geral, a precariedade dos boletins baianos nos leva a questionar as medidas que estão sendo tomadas para controlar a COVID, e até mesmo a sua eficácia. Pois, cada município tem um perfil distinto na dinâmica de transmissão do vírus. E são os dados que irão indicar o que fazer, como fazer e onde fazer. 
Há muitas perguntas a serem respondidas em Ilhéus, por exemplo: quais são as áreas de maior risco no município? Entre os 92 pacientes positivos até o dia 21/04/20 (Boletim Epidemiológico-COVID-19/SESAB no 26) quantos eram profissionais de saúde? Quantos tinham sintomas leves? Quantos precisaram ser internados? Quantos eram crianças, adultos ou idosos? Qual o grupo etário mais acometido e sua mediana? Há diferenças de infecção entre faixas etárias nos distritos? Existe predisposição sexual? Qual o percentual de infecção entre profissionais da saúde? Técnicos, enfermeiros ou médicos têm maior ocorrência de infecção? Isso pode indicar falhas na execução dos protocolos de prevenção! Qual o tempo médio de internação para pacientes leves e graves? Qual é a média do tempo recuperação para os diferentes estágios de infecção e entre as faixas etárias? Quais são os sintomas mais encontrados em pacientes leves e graves? Quais os percentuais de pacientes leves e graves? Qual o percentual de pacientes leves que estão evoluindo para graves? Quantos infectados têm comorbidades descompensadas? Há diferença no tempo de recuperação para comorbidades distintas? Quantos internados foram infectados posteriormente? Quantos casos foram diagnosticados laboratorialmente e quantos apenas com critério clínico-epidemiológico? Como está sendo feita a diferenciação entre outras viroses que ocorrem neste momento? Qual o coeficiente de incidência da doença? Qual a condição clínica dos pacientes que vieram a óbito? Entre os 55 pacientes positivos até o dia 21/04/20, quantos eram profissionais de saúde? Quantos tinham sintomas leves? Quantos precisaram ser internados? Quantos eram crianças, adultos ou idosos? E por aí vai... 
O sucesso na prevenção e controle de doenças depende, primordialmente, da qualidade dos dados coletados. Mas a visualização e compreensão desta qualidade depende, fundamentalmente, de capacidade técnica e de profissionalismo. Assim, deixo aqui mais uma reflexão: na Bahia, falta qualificação ou compromisso para questionar e responder estas perguntas? 

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