sexta-feira, 8 de maio de 2020

Nem as doenças acontecem por acaso

Dra. Tatiani V. Harvey 
Médica Veterinária
Mestre e Doutora em Ciência Animal
Ênfase em Doenças Parasitárias
Não foi a peste, nem a cólera, nem a gripe espanhola... nem outras doenças que sacudiram a consciência sanitária do homem que nos deram um puxão de orelha tão forte quanto o fez a COVID-19. 
Aos cristãos é muito clara a razão desta desventura, pois a Palavra conforta e assinala que nada acontece por acaso (Eclesiastes 7:14). 
A evolução física da sociedade tem desfilado sorridente, avassaladora e impiedosa sobre a trilha da nossa involução espiritual. A riqueza e a pobreza nos cegaram e nos enrijeceram. A tecnologia e a vaidade nos escravizaram e nos segregaram. Muitos se perderam e não vivenciam mais suas famílias, não enxergam ou respeitam o outro. Não amam. Não perdoam. Não honram mais os seus pais. Não valorizam o seu corpo. Mentem. Cobiçam. E a fé? Foi perdida, escondida, subjugada. 
Então, veio o puxão de orelha. O isolamento nos colocou cara a cara com os nossos erros, frustrações e medos. Presenteou-nos com o tempo que faltava para respirar, reavaliar nosso papel e compromisso com o casamento, nossa postura como pais, filhos, parentes, amigos, profissionais e cidadãos. Ganhamos tempo para rever nossa trajetória de vida e refletir sobre nossas escolhas. Refletir sobre quem somos e sobre quem queremos ser, sobre o que queremos, sobre o valor real das nossas conquistas e, até mesmo, sobre a nossa falha em enxergá-las. Ganhamos tempo para compreender nossas derrotas, nossas necessidades, nossas obrigações. Tempo para decidir que rumo nossa vida tomará a partir de agora. Ganhamos uma nova chance, um precioso tempo de introspecção...uma oportunidade de identificarmos a nossa missão neste mundo. 
A epidemia evidenciou nosso despreparo emocional e financeiro diante dos momentos de crise, escancarando nossa vulnerabilidade individual.
Entretanto, a extensão dessa chance vai além do âmbito pessoal. Esta pausa oportunizou a releitura da nossa sociedade e do conceito da consciência coletiva. Evidenciou a fragilidade do nosso sistema de saúde e o oportunismo egoísta da classe política. 
E, para reforçar o ensinamento de que nada acontece sem propósito, do meio de toda esta tempestade, ressurgiram, em chamas, dois dos gestos mais nobres do ser humano, a fraternidade e a solidariedade. 
Assim, diante desses ressurgimentos, sinto-me profundamente triste por aqueles que, cansados e doentes, desistiram de suas vidas. Pois, este momento é a prova de que, por mais imperceptível que seja, ainda existe esperança para cada um de nós.

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