domingo, 5 de julho de 2020

Seu pet exótico também pode transmitir doenças

Dra Tatiani V Harvey
Médica Veterinária
Mestre e Doutora em Ciência
 Animal Ênfase em
Doenças Parasitárias
Na perspectiva do “ há males que vêm para o bem”, a epidemia da coronavirose trouxe uma reflexão importante sobre o contato com animais exóticos e silvestres, e sobre a guarda destes animais dentro de nossas residências. Diante desta realidade, como passará a atuar o sistema de vigilância à saúde, no Brasil, em relação à prevenção de potenciais zoonoses transmitidas por estes animais? 
O número de animais exóticos e silvestres como animais de estimação tem aumentado no país, anualmente. Segundo o Instituto Pet Brasil, em 2018 tínhamos 39,8 milhões de aves, 19,1 milhões de peixes e 2,3 milhões de répteis e pequenos mamíferos em território nacional. Este dado, provavelmente, está subestimado, pois esta informação, assim como o número de cães e gatos, não é coletada nos censos realizados no país. Mas, o fato é que, mesmo que o censo coletasse estes dados, a periodicidade de 10 anos ainda nos levaria a estimar estes números. E qual é a importância desta informação? Permitir o direcionamento correto de políticas públicas voltadas aos animais, e que permitam um impacto real das ações de Saúde Pública. 
Entre os vários pets exóticos que têm aval do IBAMA para serem criados em residências estão furões, aves, iguanas, cobras, coelhos, hamsters, porquinhos da índia, tartarugas, etc. Um outro fato importante é a posse ilegal de animais silvestres, que ocorre com maior frequência em áreas rurais. Em Ilhéus, por exemplo, vi famílias criando tatus, raposas, quelônios, aves, saguís e, inclusive um caititu. Alguns destes animais acessavam o interior das casas e tinham contato com populações de maior risco, como as crianças e os idosos. A população precisa entender que estes animais podem ser reservatórios de bactérias, fungos, vírus, protozoários e verminoses. E, como os cães e os gatos, eles devem receber cuidados adequados para evitar a transmissão de doenças. 
Dentre as diversas doenças que podem ser transmitidas através do contato direto ou indireto com estes animais estão as doenças bacterianas como a salmonelose, a micobacteriose, a clamidiose, a borreliose, a psitacose, campilobacteriose, a leptospirose, a bartonelose, etc; as viroses como a gripe, a hantavirose, a coriomeningite linfocítica, a herpes dos macacos, etc; as doenças fúngicas como as micoses, a criptococose, a encefalitozoonose, a histoplasmose; as protozooses como a giardíase, criptosporidiose e toxoplasmose; diversas verminoses e doenças transmitidas por artrópodes, com a escabiose, por exemplo. E não se deve desconsiderar que muitos animais podem estar aparentemente saudáveis, ou seja, sejam assintomáticos. 
Espera-se que, com esta nova reflexão, as ações preventivas e educativas sobre o potencial zoonótico dos animais de estimação exóticos e silvestres sejam reforçadas e solidificadas no Brasil. A população deve ser orientada a evitar o contato e a coabitação destes animais, especialmente, com crianças menores de 5 anos, idosos, gestantes e imunocomprometidos. Deve ser orientada, ainda, a limitar os espaços de circulação destes animais dentro das residências, evitando, principalmente, a circulação em cozinhas. E, na verdade, deveria ser um dever destes tutores proporcionar o acompanhamento veterinário, no mínimo, anual destes animais. E todos os profissionais de saúde, incluindo médicos e veterinários, devem estar cientes da epidemiologia local destas doenças, a fim de incrementar a lista de diagnósticos diferenciais, tanto na clínica humana quanto na clínica animal. 
Por fim, mesmo que você adquira animais de criadouros legalizados, seu animal deve ser avaliado por um veterinário, periodicamente. Não esqueça que estamos no Brasil, e não há garantias de que todos estes estabelecimentos cumpram à risca as regras da vigilância sanitária.

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