sábado, 11 de julho de 2020

Tem parasitas na praça?!

Dra Tatiani V Harvey
Médica Veterinária
Mestre e Doutora  em
 Ciência Animal Ênfase
em Doenças Parasitárias
 
Há anos, a contaminação do solo de praças, parques, ruas e outros ambientes públicos com parasitas de animais têm sido evidenciada em estudos realizados pelo país. Mas, infelizmente, este assunto só vira conversa dentro das universidades, e o verdadeiro público alvo continua à mercê da desinformação. 
Parasitas zoonóticos, aqueles que podem ser transmitidos ao homem, especialmente os ancilostomídeos, mantêm altas taxas de prevalência no Brasil, conforme investigações em amostras fecais de cães encontradas em ambientes públicos. Fato que é confirmado por outros estudos que investigaram a presença destes agentes em amostras de solo de praças, praias, parques, etc. Relatos para todos os gostos, do Oiapoque ao Chuí. Então, pergunto-me: Até quando vai se fazer vista grossa para esta realidade? Até quando estas informações servirão apenas para rechear currículos, inclusive dos avessos à ciência bairrista? Até quando os tutores “estudados” vão fazer de conta que manejam os animais deles, adequadamente? 
Adentrando a situação de IIhéus e da nossa microrregião, a maioria dos dados disponíveis não foram publicados, ou melhor, atenderam apenas alguns eventos acadêmicos. Em 2005, uma análise de amostras da areia da Praia dos Milionários demostrou uma alta ocorrência de parasitas causadores de infecções entéricas em homens e animais, Strongyloides stercoralis (41,6%) e ancilostomídeos (58,8%), que causa, também, o “bicho geográfico”. Estes mesmos agentes foram identificados em amostras de solo coletadas às margens do Rio Almada e da Baía do Pontal, entre 2012 e 2013. Em 2008, uma amostragem nas praças de Itabuna revelou a presença de contaminação fecal com Ancylostoma sp., Strongyloides stercortalis, Toxocara canis, causador da Larva Mingrans Visceral e Ocular, Trichuris vulpis, Giardia e amebas não patogênicas. Mais recentemente, coletei amostras fecais de cães em ruas de 40 povoados rurais de Ilhéus e identifiquei ovos de ancilostomídeos em 60.7% das amostras. E todos os agentes citados acima, entre outros, foram encontrados, contaminando as ruas destes locais. No entanto, estes são apenas alguns exemplos do engessamento da condição sanitária do município. 
Entretanto, a cobrança que faço aqui não se restringe apenas ao meio acadêmico, mas ao poder público, aos gestores realmente comprometidos com a saúde, ao próprio cidadão e ao tutor de animais. O acadêmico precisa divulgar, o gestor precisa planejar e o cidadão precisa de informação, e ter o dever de respeitá-la. Observemos que a prevenção destas doenças depende do comprometimento coletivo. Exemplo para o tutor? Não deixar seu cão acessar as caixas de areia onde as crianças brincam nas praças. Recolher e descartar adequadamente as fezes do seu animal. Vermifugar seu animal com supervisão de um veterinário, e não de um balconista de casa agropecuária. 
O contexto atual, felizmente, está abrindo os olhos de muita gente para a necessidade da popularização da ciência. E com isso, espero que passe a cobrar mais dos nossos gestores por políticas públicas mais eficazes no combate às doenças, a cobrar mais compromisso regional do meio acadêmico. Pois, afinal, para quem se faz política e ciência? E nós, cidadãos e tutores de animais, precisamos cobrar mais responsabilidade uns dos outros, até de nós mesmos enquanto partes deste todo tão complexo que é a nossa saúde.

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