Dra Tatiani V Harvey Médica Veterinária Mestre e Doutora em Ciência Animal Ênfase em Doenças Parasitárias |
A Saúde Única, uma abordagem antiga retomada em 2004, advinda da emergência do SARS e da gripe aviária H5N1, é a mais nova estratégia de ação para solucionar problemas de saúde, especialmente em termos de coletividade. Uma perspectiva holística de ação transdisciplinar fundamentada no link entre a saúde humana, a saúde animal e a saúde ambiental.
Ao longo da história da humanidade vivenciamos, diariamente, o risco de transmissão de patógenos através de animais, dos alimentos ou da água. Passamos por pandemias, epidemias, surtos e, hoje, vemos doenças antigas reemergirem e novos patógenos adentrarem, especialmente, os nossos centros urbanos. Esse despertar ou surgimento de novas infecções e doenças deve-se, em grande parte, a intervenções antropogênicas, ou seja, à ação humana. Fatores como a expansão urbana, intensificação da agricultura, uso da terra, que provocam alterações nos ecossistemas, e a própria globalização, tanto no que se refere ao fluxo de pessoas como às práticas comerciais, incluindo o comércio de animais, podem promover a dispersão de patógenos. Entre outros fatores que podem promover a entrada destes agentes em populações humanas está o consumo de carnes exóticas e a adoção ilegal ou o tráfico de animais exóticos e silvestres.
Focando especialmente nas zoonoses, que se referem a patógenos animais transmitidos ao homem, direta ou indiretamente, e considerando que a maioria das doenças emergentes – pelo menos 75% - tem origem animal e, especialmente, na fauna silvestre, o aparecimento destas infecções, e consequentemente das doenças, é favorecido quando estes animais passam a ter contato com as nossas áreas de convivência, ocasionando a disseminação de patógenos entre os animais doméstica e os humanos. Neste contexto, patógenos de animais silvestres podem passar diretamente ao homem, ou chegar a ele através da prévia circulação em populações de animais domésticos, sendo veiculados através de vetores como carrapatos, pulgas e mosquitos, ou não.
Como você pode observar, fatores culturais, econômicos e sociais podem, então, contribuir para o estabelecimento destas doenças em nosso meio. E aí é que entra a Saúde Única. Esta abordagem exige a integração de profissionais de diferentes áreas e de diferentes setores da sociedade, desde o planejamento até a execução de ações em saúde, permitindo uma melhor compreensão ecológica das doenças e o delineamento de ações mais eficazes de prevenção e, com isso, a mitigação e controle dos problemas atuais de saúde.
Este novo conceito vem, pouco a pouco, ganhando adeptos entre os acadêmicos e os profissionais da administração pública, felizmente. No entanto, é muito importante que a Saúde Única ganhe grades curriculares nos cursos de medicina, veterinária, biologia, enfermagem, agronomia, etc. E, além disso, é imprescindível a associação entre as universidades, órgãos municipais, escolas, organizações não governamentais, protetores de animais e profissionais da saúde para a composição de ações em saúde. Pois, para que sejam produzidos avaliações e resultados que determinem políticas públicas sólidas e eficazes, a complexidade da relação homem-animal-ambiente exige diálogos mais complexos, que somente podem ser construídos a partir de discussões multiprofissionais.
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