terça-feira, 20 de outubro de 2020

As bandeiras e a pandemia

Nestes últimos dias, a nação brasileira, desde o mês de março, está enfrentando a pandemia do coronarírus, que é resultado da ação de um vírus silencioso, letal, invisível e altamente perigoso. Esse vírus provoca a covid-19, que já cerceou a vida de muita gente, cerca de 154 mil brasileiros em média, o que é assustador e, para quem tem um mínimo de sensibilidade humana, esse número é aterrador.
Pe. Damião Conceição de Souza borges 1
Essa pandemia, que “parou o mundo”, exige da humanidade posturas sérias, coerentes e responsáveis com a vida, como um verdadeiro dom maior! Esse momento atual da humanidade requer um cuidado muito sério por parte de autoridades, famílias, organizações religiosas, sociais e civis.
No entanto, contrariamente às orientações mundiais sobre a necessidade de cuidados singular e comunitariamente, as aglomerações vistas Brasil afora, desde o afrouxamento do isolamento social, começaram a ser uma constante em todas as camadas da sociedade brasileira, com praias cheias, bares lotados e entre outros ambientes que propiciam ajuntamento de pessoas. 
Mas, uma realidade que tem se tornado um complicador e contraditória se tornou, nesses últimos dias, uma constante nas pequenas e grandes cidades e que tem ocasionado os eventos ligados ao pleito eleitoral e acarretado o envolvimento de muitas pessoas Brasil afora e independente de classe social. 
Algumas questões devem ser colocadas como pontos de reflexão. O que leva as pessoas a entrar num estágio de relativação dos cuidados específicos consigo mesmas e com outrem? Qual a motivação que as leva a se envolverem com uma veemência tamanha? Qual é a real motivação das diferentes classes da sociedade brasileira? 
A dimensão política no Brasil e mais especificamente na baiana, carrega elementos muito peculiares e que movimenta crianças, jovens, adultos e idosos. Mas qual é o limite desse envolvimento, que rompe orientações sanitárias elementares no momento atual? 
O pleito eleitoral, que é um serviço “necessário”, atualmente é lugar de rivalidades, rixas, divisões e, nesse momento pandêmico, momento de irresponsabilidade em relação à vida. Qual a causa? Para além do patriotismo, verdadeiramente a política no momento atual tornou-se oportunidade de correr riscos, de grandes aglomerações, de buscas singularizadas, de jogos de interesse, o que é algo muito triste. 
É uma situação estarrecedora, que desafia a própria essência do fazer política, pois percebe-se, de maneira nítida, que há uma busca de compensação dos que fazem a política e dos partidos políticos, dos que intentam assumi funções públicas, que vão criando situações múltiplas, que desafiam as metas sanitárias e suas orientações que intentam manter a saúde como de fato ela é, elementar. E a pergunta que muitos se fazem: a pandemia acabou non Brasil? 
Ao contrário de uma preocupação que seja realmente com os munícipes, vê-se as bandeiras de todas as cores arrastando multidões, que se esquecem do contexto desafiador e se envolvem, sem reservas, na disputa eleitoral, sempre pensando, infelizmente, nas vantagens que a suposta vitória de seu candidato lhes acarretará. Neste sentido, independente da cor da bandeira, o comportamento é o mesmo, configurado por um jogo de interesses, que no fundo exclui o coletivo e reina o individual, numa postura de egoísmo e busca de satisfação. 
Em síntese, as bandeiras “venceram a pandemia”, conseguiu impor-lhe um intervalo, e conseguiram mais uma vez, parafrasear o artista Caetano Veloso: “atrás da bandeirada só não vai que já morreu!” Diante desse momento desafiador, que todos os “crentes” invoquem o nome do Senhor nosso Deus e que ele tenha misericórdia de nós e do mundo inteiro! 

1 Presbítero da Diocese de Ilhéus. Licenciado em Filosofia pela FBB, Bacharel pela UCSAL, chanceler da Cúria diocesana de Ilhéus e mestrando em Direito Canônico pelo Pontifício Instituto Superior de Direito Canônico do Rio de Janeiro, agregado à Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. 

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