A santidade, maior meta cristã¹
Domingo e segunda, passados próximos, foram celebrados dois momentos distintos e bastante significativos para a Igreja católica: Solenidade de Todos os Santos e comemoração dos fiéis defuntos. E o mais singular é uma coisa está ligada estritamente à outra; o cristão, pois, em tese, não morrem para sempre e a santidade, em sua forma plena, necessita da passagem da vida temporal para a vida que não se acabe, em Deus (cf. Jo 11,25), ou seja, oportunidade de, em momento determinado, poder enxergar Deus (cf. Jó 19.25-27).
Pe. Damião Conceição de Souza Borges²
Durante muito tempo, porém, esse tema da santidade ficou restrito como algo específico dos que eram da tida como “alta corte da religião cristã”: padres bispos, freis/freiras ou algumas pessoas ligadas a essas “classes”. No entanto, foi muito significativo perceber que os próprios cristãos foram tomando consciência da sua verdadeira essência, que é ser santo, à semelhança do seu Senhor, Cristo Jesus, o santo por excelência!
No decurso do tempo, especialmente no momento pós-Vaticano II, muitas canções católicas, poemas, homilias, textos inúmeros versaram sobre a importância da santidade cristã. Face a essa pulsão, indaga-se: o que é a santidade? Como vivê-la? Quais as exigências desse caminho? Qual é a pulsão que move esse processo de santidade?
Em linhas gerais, a santidade é a essência do cristão. Quando, na pia batismal, o batismo foi/é conferido a uma pessoa, ela recebeu/recebe a marca de Deus em sua vida, para que no decurso da sua existência, ela possa de maneira contínua tornar nítida essa marca, a partir das escolhas existenciais, que podem ser de confirmação deste selo, de aceitação de sua realidade maior ou, simplesmente de rejeição, o que sinaliza um desastre.
Existe, pois, um imperativo no ser cristão, “imposto” pelo próprio Jesus Cristo: “sede santos, porque o vosso Pai celeste, que está no Céu, é santo” (cf. Mt 5,48). Por esta perícope bíblica, nota-se claramente que não há outra realidade que identifique o cristão, senão a santidade.
Recentemente o Papa Francisco publicou uma Exortação Apostólica codinominada Gaudete et exsultate versando sobre a santidade no mundo e, de maneira muito pedagógica, deu detalhes de como viver a santidade no mundo, a exemplo de: poder fazer o mau e preferi o bem, rezar pelos seus algozes, suportar dores humanas em vista de um bem maior, buscar amar a Deus no quotidiano, rezar sem cessar pelo filho ou neto que se perdeu de alguma forma, buscar a paz como algo necessário à humanidade, partilhar coisas e o coração, colocar-se a serviço de outrem, enfim, viver as bem-aventuranças, consignadas no Evangelho de Mateus (cf. Mt 5, 11).
Outros aspectos que ajudam ricamente os cristãos no processo de crescimento em santidade são a participação nos sacramentos, especialmente os da Eucaristia e a da Penitência, a leitura orante da Palavra de Deus, a adoração Eucarística, a prática das obras de misericórdia, espirituais e temporais, e a observação dos Mandamentos, o abandono do chamado “mix” da fé, a saber, a mistura nas formas de crença, tão marcante nesse tempo de confusões existenciais.
A santidade como meta essencial dos cristãos é um grande tesouro da Igreja; um grande patrimônio da Igreja católica que deve ser assumido por todos os católicos e os cristãos de modo geral, tendo como meta uma participação no projeto e na pessoa de Jesus, o Senhor do tempo e da história, que conduz sua Igreja, rumo à plenitude, tendo- O como caminho inequívoco, como verdade única e vida plena (cf. Jo 14,19).
Colaboram neste peregrinar cristão de vivencia da santidade todos os Santos, que do Céu intercedam pelos seus irmãos mais novos que estão nesta peregrinação existencial na fé, e são um exemplo muito significativo para a caminhada dos crentes rumo a eternidade. Que eles, “os que lavaram e alvejaram suas vestes no sangue do Cordeiro” (cf. Ap 7,14) ajudem a Igreja neste momento difícil da história humana!
1 Texto publicado no dia 03 de novembro de 2020
2 Presbítero da Diocese de Ilhéus. Licenciado em Filosofia pela FBB, Bacharel pela UCSAL, chanceler da Cúria diocesana de Ilhéus e mestrando em Direito Canônico pelo Pontifício Instituto Superior de Direito Canônico do Rio de Janeiro, agregado à Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.
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