terça-feira, 22 de dezembro de 2020

A cidade se enche da novidade do Natal. Será?

Este momento do Natal é sempre cheio de sentimentos bons, de reflexões e planos para recomeços. A sociedade, de modo geral, se enche de expectativas e a criatividade reina, especialmente por parte do comércio, que aproveita a oportunidade para faturar um pouco mais, uma vez que que o Natal é marcado também pela troca de presentes.
Pe. Damião Conceição de Souza borges2
Na realidade, o Natal para o mundo, de modo geral, é marcado com sentimentos nobres, de reflexões, de desejos de partilha, de muitas fantasias, superstições e “magias” e, ainda que este ano esteja sendo marcado por exigências que impedem as festivas e suntuosas ceias de Natal, as pessoas continuam nutrindo o chamado espírito natalino. 
Esta natureza do Natal, com todo o seu significado, é uma herança que tem início em lugar determinado, na gruta Belém (cf. Lc 2, 6 -7). O Natal, ainda que esteja passando por um processo de paganização, tem origens cristãs; é uma festa cristã. Esta festa é a memorização do evento que cortou a história da humanidade, de maneira radical: o nascimento do menino-Deus, não é sem sentido que a expressão natal se conexiona com nascimento, natalício, nascituro. 
É espantoso perceber a alteração de conceitos, a mudança de perspectiva e o deslocamento do centro do Natal. Troca-se a luz, que é o Menino nascido, pelas luzes do tão conhecido pisca pisca; prefere-se a chamada ceia de Natal, regada com uma diversidade de comida à Santa Missa e mundanamente, colocou-se papai noel no lugar da Criança, que é a razão do Natal e que ama durante todo o ano. Que humanidade insana! 
Por esta perspectiva, assim se expressou um apresentador de certo canal de televisão: “papai noel, a personagem mais esperada do natal”. Isso revela exatamente a mentalidade mundana e ateia, que se apropria de uma espiritualidade e um sentido próprios para poder se beneficiar, criando uma realidade ilusória, em substituição do verdadeiro sentido do Natal. Que tristeza preocupante! Que referência infeliz do Natal, reduzido ao papai noel. 
A falsa cultura do autorreferenciamento gera seres humanos vazios, sedentos de atenção (e isso fica visível no jogo de seduções nas redes sociais), que busca no exterior o que só pode ser encontrado internamente. Essa busca desenfreada de satisfação vai aos poucos criando mundos imaginários e incapazes de preencher o coração humano. Por este viés os seres humanos, especialmente as pessoas cristãs, precisam confessar como fizera profunda e belamente Santo Agostinho: “ tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova! Eis que habitavas dentro de mim e eu te procurava fora! Eu, disforme, lançava-me sobre as belas formas das tuas criaturas” (Disponível em https://www.pensador.com/frase/MTI4NzgxNw/). Acesso em 22.12.2021). É uma grande pena que mentalidades rasas e pueris têm influenciado tanta gente, em detrimento das profundezas de sentidos que abarcam o verdadeiro Natal! 
Os cristãos devem resgatar o verdadeiro sentido do Natal, priorizando sua espiritualidade, tomando consciência que essa celebração não é simplesmente o aniversário de Jesus, mas, muito mais que isso. O Natal é a celebração da encarnação do Verbo de Deus (cf. Jo 1,14), que assumindo a forma humana, se fez pobre para enriquecer o ser humano (cf. 2 Cor 8,9. De igual modo, o Natal é a festa da verdadeira Luz, que encheu a humanidade de esperança e alegria (cf. Lc 2,9). 
Enquanto o Natal for a festa da artificialidade, simbolizada pelas luzes, muitas delas desprovidas de beleza e sentido, do papai noel, que escolhe casas privilegiadas, e do peru; elementos excludentes, que não chegam para a maioria dos brasileiros, difícil será reencontrar o equilíbrio para esta sociedade, que carece profundidade na família, de senso de altruísmo e esforço para envolver a todos, reinando o egoísmo e a ganância, as fantasias e a selvageria do comércio, o Natal verdadeiro não acontecerá! 
Que Deus, o pai das luzes, tenha misericórdia do ser humano, sua criatura amada! 

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