terça-feira, 29 de dezembro de 2020

A passagem do tempo para os que ainda vivem

“Ensinai-nos a contar os nossos dias e dai ao nosso coração sabedoria” (cf. Sl 90, 12) 
É Natal, tempo de celebrar uma eterna novidade. Esta natureza do Natal, com todo o seu significado, é uma herança que tem início em lugar determinado, na gruta Belém (cf. Lc 2, 6 -7). O Natal, ainda que esteja passando por um processo de paganização, tem origens cristãs; é uma festa cristã. Esta festa é a memorização do evento que cortou a história da humanidade, de maneira radical: o nascimento do menino-Deus, não é sem sentido que a expressão natal se conexiona com nascimento, natalício, nascituro.
Pe. Damião Conceição de Souza Borges*
Neste momento de alegrias contagiantes, apesar do momento aterrador, o tempo vai aproximando as pessoas do fim de um ciclo e o início de outro, que marca a segunda década deste século, cheios de belezas e contrariedades. 
O findar de um ano é sempre momento que comporta muitos verbos no infinitivo: refletir, avaliar, projetar, perdoar, contabilizar, planejar, enfim, recomeçar. Neste ano não seria diferente, pois o automatismo faz parte da constituição humana para algumas questões, o que carece de vigilância, mas tem lá sua positividade. 
Por sua vez, como sempre acontece, na chamada virada do ano, as pessoas, independente de credo e ideologias, fazem planos em pequena ou larga escala, ousados ou mais tímidos, mas sempre estão projetando. A pergunta que se impõe a todos é: há possibilidade de planejar algo frente às questões que têm assolado a humanidade? 
Uma das coisas mais belas do ser humano é a sua capacidade de recomeçar. Neste sentido, ainda que 2021 esteja entregando ao seu sucessor temporal uma situação desastrosa, que afeta todas as dimensões do existir humano, é preciso nutrir algo que é de significado singular: a esperança, como mola propulsora da vida humana (cf. Jr 29,11). 
É verdade que esse ano revelou duas faces do ser humano, em si mesmas antagônicas. Se por um lado a pandemia desvelou muitas iniciativas de cuidado com as pessoas, provindas de particulares e instituições diversas, por outro lado revelou ainda mais o lado sombrio do ser humano, que desafia e envergonha a natureza humana. Atitudes perversas como desviar verbas de respirador, minimizar a complexidade da pandemia, aglomerar quando os estudiosos orientam para se isolar e entre outros são atitudes que acabam abafando os inúmeros gestos de zelo, cuidado, atenção, solidariedade e amor ofertados pelas pessoas de todas as camadas sociais. 
Entretanto, o recomeço é sempre plausível. Neste sentido, a passagem para o segundo ano desta década deve marcar um verdadeiro recomeço, com sinceros votos de equilíbrio humano, diminuição de desigualdades, diminuição da quebra de braço irresponsável de governos, de celeridade em oferecer vacinas para todos. Ainda é momento de reforçar os laços de sensibilidade humana, de intensificar o cuidado com o planeta, especialmente com a Amazônia, de lutar para diminuir o analfabetismo social, a escravidão das mídias sociais e o rompimento drástico com a corrupção, que é uma desgraça que mata inúmeras pessoas neste país, que ainda é terra de Santa Cruz. São metas que não podem deixar de constar no plano de uma melhor para todos. 
Que Deus, o pai das misericórdias, conceda a todos a graça de um feliz, responsável e próspero recomeço. 

* Presbítero da Diocese de Ilhéus. Licenciado em Filosofia pela FBB, Bacharel pela UCSAL, chanceler da Cúria diocesana de Ilhéus e mestrando em Direito Canônico pelo Pontifício Instituto Superior de Direito Canônico do Rio de Janeiro, agregado à Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. 



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