Anualmente, após as cinco semanas do tempo litúrgico da Quaresma, momento de grande preparação; um verdadeiro itinerário espiritual, em preparação intensa para a Páscoa, a Igreja católica celebra, de maneira solene, a conhecida mundialmente, Semana Santa, que marca o ápice da fé cristã.
Pe. Damião Conceição de Souza Borges
Ela é uma oportunidade específica para fazer memória dos últimos passos de Jesus de Nazaré, em sua existência corpóreo-temporal. Iniciada no domingo de ramos, também intitulado da Paixão do Senhor, a Semana Santa, igualmente chamada de Semana Maior, tem sua culminância no domingo da Ressurreição, que é, por sua vez, a proclamação solene que Ele ressuscitou dos mortes e vive no meio dos homens (cf. Jo 20,11-23).
Os três dias dessa Semana, intitulado de Tríduo Pascal, celebrados como uma grande e única liturgia, na qual concentram-se Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. São dias soleníssimos! Esse tempo forte, de intensidade espiritual, marca a vida dos cristãos católicos, pois é oportunidade de aprofundar sobre o amor que Deus tem por todos, a ponto de doar a vida em favor do ser humano (cf. Jo, 10,18).
Sendo aberto na quinta-feira Santa, com a solenidade da instituição da Eucaristia e do sacerdócio ministerial (cf. 1 Cor 11,23-26), o Tríduo Pascal é altamente pedagógico. A liturgia da Quinta-feira, celebrada ao cair da tarde e início da noite, composta por ritos e significados bem definidos, é uma solenidade que faz memória também do gesto de despojamento que o próprio Jesus fez, humilhando-se a si mesmo, realizando o gesto que era tipicamente dos escravos, lavando os pés dos discípulos (cf. Jo 13,1-17). Por isso é chamada de Missa da Santa do Senhor e alguns ainda chamam de missa do lava-pés.
Na sexta-Feira Santa, ou também da Paixão do Senhor, é um dia de recolhimento e reflexão. Por volta das 15 horas ou mais tarde – nunca mais cedo, sem causa justa e razoável, é realizada a celebração da Paixão do Senhor. É mister salientar que não é missa, pois esse dia é o único no qual a Igreja católica, no mundo todo, não celebra o Santo Sacrifício da Missa.
Nesta celebração, composta de quatro partes bem específicas, é feita a narrativa do processo, julgamento, sentenciamento e execução penal de Jesus. Nela é feita do mesmo modo a adoração da Cruz, como sinal da salvação humana, que com o Novo Testamento, diferente do Antigo Testamento, que a tinha como causa de maldição (cf. Dt 21,23) ganhou um significado completamente novo (cf. 1 Cor 1,18-25). Posteriormente é feita a oração universal; um tipo de prece dos fiéis bem específico, com dinâmica específica e única. Por fim é realizada, ainda, a distribuição da Sagrada Comunhão, que fora consagrada na noite anterior. Em seguida o silêncio litúrgico, instalado na noite anterior, com a transladação do Santíssimo Sacramento para local conveniente e o desnudamento do altar da igreja, é retomado como meio de reflexão e recolhimento.
No Sábado Santo, apelidado erroneamente de sábado de aleluia, o silêncio litúrgico é rompido pela Vigília Pascal, com seus ritos e símbolos, que, por sua vez, corroboram para o entendimento da noite das Noites, Vigília das vigílias como mãe de todos os eventos litúrgicos. Por isso deve ser solenizada, haja vista que ela é o centro e gênesis de toda a vida cristã e litúrgica e suas inúmeras atividades.
Com fogo, água, luz, Círio Pascal, abundância de Textos Sagrados e de orações interlocutórias e a proclamação da Páscoa ou Precônio Pascal, a Igreja católica proclama festiva e solenemente que Aquele que morreu, ressuscitou e vive eternamente!
O domingo da Ressurreição ou o domingo de Páscoa, por sua vez, é a porta de entrada para um tempo litúrgico que dura cinquenta dias, como marco de um tempo novo para a humanidade. O Filho de Deus feito homem, rompeu as cadeias da morte e vive para sempre (cf. Lc 24,1-6).
A expressão páscoa significa passagem. Na vertente teológica, é a grande passagem das trevas para a luz, da morte para a vida. Para os cristãos este momento é de uma singularidade sem medida. O Senhor da Igreja cumpre a promessa, ressuscita e vive eternamente. E não só isso, essa passagem é a garantia de que não creem em qualquer coisa, mas numa verdade que perdura a mais de dois anos.
Celebrar a Santa Páscoa, especialmente neste momento de dificuldades para a humanidade, com tantas mortes por causa da pandemia atual, os votos são de verdadeira passagem com o Senhor, com as súplicas da intervenção do Alto e a ação poderosa do Ressuscitado.
Que o Ressuscitado nos ajude!!
Presbítero da Diocese de Ilhéus. Licenciado em Filosofia pela FBB, Bacharel pela UCSAL, chanceler da Cúria diocesana de Ilhéus e mestrando em Direito Canônico pelo Pontifício Instituto Superior de Direito Canônico do Rio de Janeiro, agregado à Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.
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