sábado, 24 de abril de 2021

Pastoral da Criança: sação nutricional das crianças no Brasil

Foto: Acervo da Pastoral da Criança
A pandemia tem afetado diretamente as nossas crianças. Mais de um ano depois é possível verificar o agravamento da fome e da situação nutricional infantil. Dados do UNICEF - Fundo das Nações Unidas para a Infância apontam para dificuldades de acesso regular a alimentos em populações carentes em diversos países, quadro que deve provocar o aumento de casos de desnutrição. A carência de alimentos atinge também as gestantes, situação que predispõe a desnutrição intra útero e o aumento de crianças nascidas com baixo peso. Isso afeta tanto a sobrevivência infantil quanto impacta a saúde dessas crianças para o resto da vida. São as consequências da falta de cuidados em um período tão importante, os primeiros mil dias de vida. Além disso, durante a pandemia constatou-se o aumento do consumo de alimentos industrializados pela população. As crianças estão mais em casa, privadas de irem à escola, de brincar ao ar livre, estão exercitando-se menos. Ou seja, a pandemia tende a aumentar tanto a desnutrição quanto a obesidade infantil. Faz-se necessário o trabalho conjunto, do governo, sociedade civil e da própria comunidade, guiados pelo espírito de solidariedade para que o auxílio chegue, sem demora, aos mais necessitados. Saiba mais sobre o assunto na entrevista com Caroline Dalabona, nutricionista da Coordenação Nacional da Pastoral da Criança.
Quais são os efeitos da pandemia da Covid 19 para a segurança alimentar e nutricional das crianças no Brasil?
Foto: Acervo da Pastoral da Criança
A pandemia gerou um impacto muito grande no estado nutricional e na alimentação de muitas crianças, em especial aquelas mais vulneráveis, as mais carentes. Um relatório do UNICEF, que foi publicado no final de 2020, trouxe dados muito preocupantes. Primeiro, que muitas famílias com crianças tiveram queda na renda, o que gerou um impacto grande em toda a situação familiar, mas houve um aumento do número de famílias que não conseguiram se alimentar adequadamente. Os dados apontam que, entre as famílias mais carentes, cerca de 21% dessas famílias relataram que crianças e adolescentes deixaram de comer por falta de dinheiro para comprar alimento. Uma família que não consegue alimentar adequadamente suas crianças está vivendo numa situação de mais absoluta privação de direitos. A situação se agrava ainda mais com o fechamento das escolas, pois muitas crianças deixaram de ter acesso a alimentação escolar que, muitas vezes, era a única refeição, a única forma de acesso regular à comida para essas crianças. Outro dado bastante preocupante desse mesmo relatório é que a qualidade da alimentação está piorando. Muitas famílias começaram a comer ainda mais alimentos industrializados, que são alimentos pobres em nutrientes, ricos em gorduras, sódio, açúcar e esse aumento aconteceu principalmente entre as crianças e adolescentes.
Como está a situação nutricional das crianças brasileiras atualmente?
Segundo os dados desse relatório do UNICEF, as dificuldades financeiras das famílias mais carentes, que a gente conhece e sabe que estão acontecendo, forma como elas foram impactadas, as dificuldades de acesso à alimentação escolar, o relato de muitas que não estão conseguindo um acesso regular à alimentação, é esperado que haja aumento no número de crianças com desnutrição. A gente sabe que a alimentação mudou em algumas famílias, como o próprio relatório do UNICEF nos diz e, com o aumento do consumo de alimentos industrializados, até mesmo pelas crianças estarem só em casa, privadas de terem as brincadeiras fora de casa, de ter atividade física, é possível também que haja um aumento no número de crianças com obesidade. Ou seja, os dois extremos, as duas pontas de problemas nutricionais, a desnutrição e a obesidade tendem a aumentar. Pelos dados da Pastoral da Criança, entre 2019 e 2020, esses dados já apontam o aumento significativo no percentual de crianças com desnutrição e com obesidade.
Caroline Dalabona
Quais são os desafios no enfrentamento à Covid 19, em relação à segurança alimentar e o acompanhamento nutricional das crianças?
Bom, os desafios são imensos, mas é preciso urgente o desenvolvimento de políticas públicas para tentar amenizar e reverter essa situação, antes mesmo que se agrave ainda mais. É lógico que não podemos ficar só esperando, cobrando do poder público, é preciso também agir. Então, é preciso mobilização da população, articulação, união local das diversas instituições, tais como Igrejas, associações, comércio, iniciativa privada, entre outros que possam contribuir e ajudar a resolver os problemas localmente, nas comunidades.
Por que o acompanhamento nutricional da Pastoral da Criança é tão importante neste período de pandemia?
A gente sabe da necessidade de acompanhar o estado nutricional das crianças. Devido a toda essa situação crítica que estamos passando, o que nós estamos orientando é que os nossos líderes conversem com as famílias quando fazem as visitas online ou quando fazem a visita domiciliar com todo o cuidado de distanciamento, uso de máscara. Que nesse momento que tem o contato com a família perguntem se a criança foi levada ao serviço de saúde recentemente e se foi realizado o peso e a altura, porque aí os nossos líderes conseguem incluir esse dado de peso e altura no Aplicativo e já conseguem avaliar o estado nutricional.

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