Prodema/Uesc realiza XXX Seminário Integrador e transforma Ilhéus em palco da sustentabilidade


Durante quatro dias de intensos debates, trocas de saberes e celebrações da ciência, a Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), em Ilhéus, foi palco do XXX Seminário Integrador Internacional da Rede Prodema (XXX SIIRP) — um dos encontros mais importantes do país sobre meio ambiente, ciência e sustentabilidade. De 13 a 16 de outubro, o evento apresentado pela jornalista Karen Póvoas e mestranda do Prodema/Uesc, reuniu aproximadamente 400 pessoas, entre pesquisadores, docentes e discentes das nove universidades do Nordeste que integram a Rede Prodema (Uesc, UFMA, UFPI, UFC, Ufersa, UFRN, UFPB, UFPE e UFS), além da participação de representantes de comunidades tradicionais, consolidando a Uesc como um polo de conhecimento interdisciplinar e referência em diálogo entre ciência, saberes tradicionais e políticas públicas.A abertura do seminário, realizada no Hotel Praia do Sol, foi marcada pela emoção, pela beleza da cultura e pela força da união. O Coral da Uesc, sob a regência do maestro Antônio Melo e piano de Simone Pitágoras, encantou o público e, em um gesto espontâneo de afeto, entoou parabéns para uma aluna da Rede Prodema que comemorava aniversário. Na sequência, formou-se a mesa de abertura composta pelo reitor da UESC, Prof. Dr. Alessandro Fernandes de Santana; pela Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação, Profª. Dra. Fernanda Amato Gaiotto que também representou a Pró-Reitoria de Extensão; pelo Pró-Reitor de Ações Afirmativas, Prof. Dr. Guilhardes de Jesus Júnior; pelo Coordenador da Rede Prodema, Prof. Dr. Inajá Francisco de Souza (UFS); Pela Profa. Maria de Fátima Ximenes, representando os professores(as) dos mestrados das nove universidades participantes da Rede Prodema, do representante dos discentes do doutorado, Prof. Antonio Balbino Macal, e pelo Prof. Dr. Raildo Mota de Jesus, coordenador do Prodema/UESC e presidente da Comissão Organizadora do XXX SIIRP.
 Profa Dra Mercedes Bustamante (UnB)
Em seguida, a palestra de abertura “Emergência Climática e Biomas Brasileiros”, ministrada pela Professora Dra. Mercedes Bustamante, da Universidade de Brasília, transformou o auditório em um espaço de profunda escuta e reflexão. Ela conduziu o público a enxergar a crise climática para além dos gráficos e estatísticas. “A emergência climática não é apenas um desafio científico, mas um chamado ético à ação coletiva”, afirmou a pesquisadora - uma das maiores referências da ciência brasileira em biomas, biogeoquímica e nos impactos das mudanças globais no uso da terra.
A tecnologia entrou em cena para mostrar que também pode ser aliada da natureza. O Professor Dr. Paulo Eduardo Ambrósio, da UESC, proferiu a palestra “Inteligência Artificial e Meio Ambiente”, revelando como os algoritmos — quando guiados por propósito — podem servir à preservação da vida. Na sequência, a tarde se abriu com a palestra “Emergência Climática e Agricultura no Brasil: Estratégias de Mitigação e Adaptação”, ministrada pelo Professor Dr. José Adolfo de Almeida Neto, da UESC. Com a experiência de quem dedicou décadas à ciência e à formação de pesquisadores, o professor mostrou que a agricultura e o meio ambiente não são forças opostas, mas partes de um mesmo ciclo vital. Sua fala foi um convite à reconciliação entre o homem e a terra. Ao final, uma surpresa emocionou o auditório. O professor José Adolfo foi homenageado por sua trajetória exemplar e recebeu, das mãos do Professor Luciano Brito Rodrigues e de seus ex-orientandos, uma placa de reconhecimento pelos 30 anos dedicados à pesquisa, ao ensino e à causa ambiental.
Após a emocionante homenagem ao Professor Dr. José Adolfo, o auditório foi tomado por um clima de reverência à ciência e à dedicação dos pesquisadores da Rede Prodema, com a apresentação das teses que se destacaram por sua excelência científica e contribuição para o debate ambiental. A primeira a ser apresentada foi a tese de doutorado do pesquisador Dr. Cláudio Rosa, cuja profundidade e relevância renderam indicação ao Prêmio CAPES de Tese, recebendo menção honrosa — um reconhecimento que ecoa o compromisso da Rede Prodema com a pesquisa de impacto social e ambiental. O Público também conheceu a pesquisa “Efeitos das mudanças climáticas e no uso e cobertura da terra sobre os recursos hídricos em uma bacia hidrográfica no Cerrado brasileiro”, desenvolvida pela aluna egressa Dra. Lorena Lima Ferraz, sob orientação do Prof. Dr. Raildo Mota de Jesus - Um trabalho que traduz, com rigor e sensibilidade, a urgência de proteger as águas e os ecossistemas frente às transformações climáticas.
A tese “Estratégias de (re)existência das comunidades quilombolas da Resina e do Saramém, em Brejo Grande/SE”, de autoria do Dr. Gênisson Lima de Almeida (egresso da UFS) e orientação do Prof. Dr. Jailton de Jesus Costa, emocionou pela potência humana e cultural que carrega - Uma pesquisa que dá voz às comunidades tradicionais e revela a força da resistência que floresce nas margens do Brasil. Encerrando o ciclo de apresentações, foi a vez da tese “Angiospermas do Estado do Piauí, Brasil: diversidade, distribuição, conservação e potencial econômico”, apresentada pela egressa da UFPI Dra. Letícia Sousa dos Santos Ferreira, sob orientação da Profa. Dra. Ivanilza Andrade. Um trabalho que homenageia a biodiversidade do Piauí e reforça o valor das plantas como parte essencial da nossa identidade e economia sustentável.
No fim da tarde, o auditório se transformou em um verdadeiro círculo de saberes. A mesa-redonda “Bioma e Povos Originários: Ciência, Conhecimentos Tradicionais e a Luta pela Preservação em Tempos de Crise Climática” reuniu vozes que ecoam o espírito da terra. Mediada pelo Professor Dr. Alexandre Schiavetti, da UESC, a discussão uniu pesquisadores e guardiões ancestrais da natureza em um diálogo potente e comovente. Compuseram a mesa o Sr. Joelson Ferreira de Oliveira, representante do Assentamento Terra Vista, em Arataca; Sr. João Barba, da RESEX Reserva Extrativista de Canavieiras; Sra. Marcinéia Tupinambá, da comunidade indígena Tupinambá de Olivença; e as Sras. Eleildes do Rosário e Jéssica Oliveira do Rosário, representantes do Quilombo de Jatimane, em Nilo Peçanha.
Mais que uma mesa redonda, era uma roda de histórias, de memórias e de resistência. Cada fala trouxe a sabedoria que não cabe nos livros, mas vive nas práticas de quem cuida da vida todos os dias. Um dos momentos mais emocionantes foi o depoimento do Sr. Joelson Ferreira, que, com voz firme e o coração cheio de pertencimento, mostrou uma foto da área do Assentamento. Ao longo dos anos, a comunidade recuperou uma imensa área degradada sem financiamentos, sem grandes projetos, apenas com união, fé e amor pela mãe natureza. A imagem da floresta renascendo onde antes havia terra nua arrancou aplausos da plateia. Ali, ficou claro: a verdadeira ciência também floresce do chão, do trabalho coletivo, das mãos que plantam, das comunidades que resistem e das vozes que não se calam.
O saber que transforma e as vozes que inspiram
No segundo dia, as discussões ganharam ainda mais força e profundidade. O Professor Dr. Leonardo Azevedo Klumb, da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB), abriu as atividades da manhã com a palestra “Desafios frente à Emergência Climática em Ambientes Marinhos”, um mergulho sensível e provocador nas águas que sustentam a vida no planeta. O pesquisador conduziu o público a refletir sobre a urgência de proteger os oceanos e zonas costeiras, ressaltando que os ambientes marinhos são fundamentais para o equilíbrio climático global, e compreender seus desafios é essencial para qualquer estratégia de sustentabilidade.
Na sequência, a manhã seguiu em tom de encantamento e força feminina com a mesa-redonda formada por três grandes pesquisadoras brasileiras — mulheres que têm feito da ciência um gesto de amor e resistência pela natureza. A Dra. Simone Aparecida Vieira, da UNICAMP, abriu o diálogo com reflexões sobre os desafios de conservação na Mata Atlântica, bioma que pulsa diversidade e memória. Em seguida, a Dra. Elaine Barbosa da Silva, da UFG, trouxe um olhar sensível sobre o Cerrado, apontando as complexas transformações desse ecossistema e a urgência de ações concretas para sua preservação. Por fim, a Dra. Josicleda Domiciano Galvíncio, da UFPE, arrancou aplausos com sua fala poética e apaixonada sobre a Caatinga, um bioma tantas vezes esquecido, mas essencial para o equilíbrio do planeta. Com seu sotaque doce de Pernambuco e brilho nos olhos, ela descreveu a força da vida que floresce entre espinhos, transformando o que muitos veem como aridez em potência de sobrevivência. Ali, era a ciência se misturando à poesia, num instante em que razão e emoção se encontraram para lembrar a todos que cuidar da natureza é também um ato de fé e beleza.
Na continuidade da programação, a tarde foi marcada por mais apresentações de teses destaques. As pesquisas apresentadas pelos egressos revelaram o compromisso da Rede Prodema em formar pesquisadores que pensam a sustentabilidade de forma interdisciplinar, conectando ciência, sociedade e espiritualidade ambiental. As Teses destaque desta edição foram: “Análise econômico-ecológica da resistência camponesa na Chapada do Apodi – Ceará”, da Dra. Lunian Fernandes Moreira (egressa da UFC), sob orientação do Prof. Dr. Francisco Casimiro Filho — um retrato fiel da luta do campo pela vida, pelo alimento e pela autonomia. “Tecnologias socioambientais aplicadas para melhoria da saúde humana e do ambiente em comunidades de Guiné-Bissau”, do Dr. Toni Nhaga (egresso UFPE), orientado pela Profa. Dra. Solange Laurentino dos Santos e coorientado pela Profa. Dra. Maria Cristina Crispim — uma ponte entre povos, saberes e soluções globais para desafios locais. “Indicadores de sustentabilidade urbana para pequenos municípios: uma abordagem participativa em Conde/PB”, da Dra. Lilian Ferreira Cardoso da Silva (egressa UFPB), orientada pelo Prof. Dr. Eduardo Rodrigues Viana de Lima — uma reflexão sensível e técnica sobre cidades mais humanas, resilientes e sustentáveis. Por fim, a tese “Avaliação da contribuição da restauração biocultural para conservação da Caatinga”, do Dr. Hudson Toscano Lopes Barroso da Silva (egresso UFERSA), orientado pela Profa. Dra. Cristina Baldauf e coorientado pelo Prof. Dr. Felipe Pimental Lopes de Melo — um tributo à convivência harmônica com o semiárido e às práticas que unem natureza e cultura. Cada uma dessas teses ecoou como uma voz da ciência comprometida com o futuro, reafirmando o papel do Prodema como uma rede viva de conhecimento e esperança.
Nos intervalos, a cantora Amanda Menezes, com sua voz suave e violão afinado de emoção, trouxe uma pausa de respiro entre as reflexões científicas. Cada canção ecoou como um lembrete de que sustentabilidade também é harmonia entre pessoas, natureza. O segundo dia foi encerrado por um clima de integração e propósito. Três reuniões paralelas selaram o compromisso coletivo da Rede Prodema: de um lado, os coordenadores dos colegiados de Mestrado e Doutorado; do outro, os discentes e seus representantes que, ao final, tiveram um diálogo direto com os coordenadores. Todos alinhando caminhos e desafios para o futuro. Foram encontros que reforçaram a essência colaborativa da Rede Prodema que completou 30 anos de mestrado e 15 de doutorado, consolidando uma história de formação de profissionais comprometidos com o meio ambiente e com a transformação das realidades locais.
Dia do Professor: um tributo à ciência, ao ensino e à partilha do conhecimento
O terceiro dia do XXX Seminário Integrador Internacional da Rede Prodema coincidiu com uma data simbólica e inspiradora: 15 de outubro, Dia do Professor. E nada poderia ser mais coerente com o espírito do evento do que celebrar esse dia na Universidade Estadual de Santa Cruz. O campus foi tomado por uma atmosfera vibrante de aprendizado. Em 33 salas simultâneas, mestrandos e doutorandos das nove instituições que integram a Rede Prodema apresentaram suas pesquisas, compartilhando descobertas, desafios e contribuições valiosas para o meio ambiente e para a sociedade. As bancas avaliadoras compostas por 82 doutores(as) das 9 instituições que compõem a rede, e mais professores(as) doutores(as) do UFBA, UESB, IFBA, IFBAIANO, UFSB, AFYA Faculdade de Ciências Médicas, Faculdade de Ilhéus reconheceram a profundidade técnica e a relevância social dos estudos.
Encerrando o dia, o Auditório Paulo Souto recebeu a mesa final com os representantes da Rede Prodema, em um momento de celebração e gratidão. Foi anunciado, com entusiasmo, o próximo destino do Seminário Integrador Internacional: a Universidade Federal do Piaui (UFPI) — um novo capítulo na história dessa rede que há 30 anos semeia ciência, esperança e compromisso com o futuro.
Apresentação das pesquisas científicas
Ciência, tradição e sensibilidade: o encerramento de uma jornada transformadora
O último dia do XXX SIIRP foi um convite à avaliação e reflexão sobre o impacto da ciência e da pesquisa na sociedade e também uma celebração da vida, da cultura e das raízes do Sul da Bahia. A manhã começou na UESC com uma programação voltada aos coordenadores, professores da Rede Prodema e dos PPGs em Ciências Ambientais do Sul e Sudeste da Bahia, e representantes estudantis da Rede, marcada por diálogos inspiradores sobre o papel das Ciências Ambientais no cenário nacional.
A Professora Dra. Fernanda Amato Gaioto, Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação da UESC, abriu as atividades apresentando o panorama do fomento à pós-graduação na instituição, reforçando o compromisso da universidade em fortalecer a pesquisa interdisciplinar e o impacto social das suas ações. O Professor Dr. Carlos Alberto Cioce Sampaio, Coordenador da Área de Ciências Ambientais da CAPES, provocou o público a pensar sobre o papel das universidades na produção científica e tecnológica e os impactos reais que essa produção gera na sociedade
À tarde, o seminário deixou a teoria de lado para mergulhar em experiências que unem saberes e sentimentos. Na Fazenda Yrerê, entre Ilhéus e Itabuna, os participantes viveram uma viagem sensorial pelas cabrucas de cacau da Mata Atlântica, conhecendo de perto o processo artesanal do premiado chocolate Yrerê, símbolo da tradição e da sustentabilidade do Sul da Bahia. Foi um passeio pela história viva das fazendas de cacau — um cenário jorgeamadiano onde o sabor, o aroma e a cultura se entrelaçam.
Já na Aldeia Tupinambá Taba Jairy, em Olivença, a tarde ganhou tom de ancestralidade e emoção. A visita proporcionou rodas de conversa, trilhas na mata, oficinas de artesanato e pintura corporal, culminando em um ritual de agradecimento conduzido pelos próprios Tupinambás. Entre cânticos e olhares de sabedoria, o grupo foi lembrado de que a verdadeira sustentabilidade nasce da escuta, do respeito à terra e da conexão com os povos que a guardam desde sempre.
 Plantio de 100 mudas
 nativas da Mata Atlântica


Um evento comprometido com a Sustentabilidade

Para além dos debates, das mesas-redondas e das trocas científicas, esta edição do Seminário Integrador Internacional da Rede Prodema se destacou por transformar o discurso da sustentabilidade em ação. Cada detalhe foi pensado com propósito — do material entregue aos participantes às práticas realizadas durante o evento. Os inscritos receberam uma ecobag sustentável confeccionada com tecido de PET reciclado, como símbolo do consumo consciente, além de papel semeável com sementes de clitória ternatea, chia, linhaça e quinoa, e canecas de barro artesanais para reduzir o uso de copos descartáveis. Ambos produzidos com carinho pelos próprios discente do Prodema/UESC. Essas ações, pequenas em aparência, mas grandiosas em significado expressam o verdadeiro espírito do PRODEMA: pensar globalmente, agir localmente e inspirar mudanças reais.
Os participantes vivenciaram um instante de conexão profunda entre a ciência e a natureza por meio do plantio de 100 mudas nativas da Mata Atlântica, no Centro de Convenções de Ilhéus. Esse foi um gesto simbólico para compensar a emissão de gases de efeito estufa, o equivalente a 4,35 toneladas de CO² gerada somente na organização do evento. A ação coordenada pelo Professor Dr. José Adolfo de Almeida Neto contou com o apoio do Instituto Floresta Viva, Movimento Mecenas da Vida, Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Centro de Convenções. Foi mais do que um fechamento de programação: foi um ato de esperança, uma semente lançada ao futuro para lembrar que a ciência só faz sentido quando floresce em cuidado, compromisso e vida. “Ver alunos, professores e comunidades plantando juntos é ver a ciência florescer de forma viva e coletiva. A sustentabilidade está em cada gesto, e este evento mostrou que é possível unir conhecimento e ação por um mundo melhor”, destacou o professor José Adolfo, emocionado.
 Mesa redonda com representantes
 de comunidades tradicionais
O coordenador geral do evento e do Prodema/UESC, Professor Dr. Raildo Mota, celebrou o sucesso da edição e o engajamento de todos os envolvidos. “Mais do que um evento científico, este seminário foi um ato de esperança. Reunimos pessoas que acreditam que o conhecimento transforma territórios, que a ciência precisa dialogar com os saberes locais e que a sustentabilidade é uma construção coletiva. O resultado foi extraordinário”, afirmou.
A edição também resultou na Carta Compromisso de Ilhéus, um manifesto elaborado de forma colaborativa, reafirmando o papel da Rede Prodema na defesa da biodiversidade e no enfrentamento das mudanças climáticas. Acesse no site do Prodema Uesc.
Um legado para o Sul da Bahia e para o planeta
Com o mar, a Mata Atlântica e o cacau como cenário, o XXX Seminário Integrador Internacional da Rede Prodema encerrou-se com aplausos, gratidão e uma sensação compartilhada de propósito. Entre ciência e cultura, o evento reafirmou que o futuro sustentável é construído agora — com atitudes conscientes, integração de saberes e o compromisso de cada um com o planeta que habita. “O que vivemos aqui vai ecoar por muito tempo. Cada semente plantada, cada ideia compartilhada e cada encontro realizado são formas de renovar nossa fé no poder transformador da educação e da sustentabilidade”, finalizou o prof. Dr. Raildo Mota de Jesus, Coordenador do evento.

Manifesto Climático Ilhéus 2025
Rede PRODEMA frente à Emergência Climática
Preâmbulo — Um ano depois, a urgência que nos convoca

Passado um ano do Manifesto de São Cristóvão, a Rede PRODEMA, reunida em sua 30ª Edição do Seminário Internacional Integrador, em Ilhéus (Bahia), constata com profunda preocupação a intensificação da emergência climática. Eventos extremos mais frequentes e devastadores, somados a novas e alarmantes evidências científicas, exigem de nós não apenas a manutenção de nossas reivindicações, mas uma evolução urgente de nosso pacto com a sociedade.
Diante da lentidão das transformações necessárias, renovamos nosso chamado, agora ampliado pelas sabedorias compartilhadas neste encontro. Dirigimo-nos aos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, em todos os níveis federativos, e, às vésperas da COP-30, em Belém, exigimos ações concretas e corajosas.
I. A crise que se intensifica — e a ciência que precisa se transformar
A crise climática é o sintoma mais agudo de um modelo de desenvolvimento predatório. Enquanto a ciência evidencia com clareza os limites planetários, estruturas de poder e produção seguem surdas aos alertas. É imperativo reconhecer e superar fragilidades em nossos próprios ambientes de saber.
Incorporamos a sagaz observação de Joelson Ferreira de Oliveira (Assentamento Terra Vista), no debate “Biomas e Povos Originários: ciência, conhecimentos tradicionais e a luta pela preservação em tempos de crise climática”, ao notar “tanto ego e tantas caixinhas nas universidades”.
Essa verdade inconveniente aponta ainda para a compartimentalização do conhecimento e o academicismo como entraves. A Rede PRODEMA se compromete a fomentar uma ciência humilde, dialógica e integradora, que valorize, em igual medida, o saber dos povos originários e comunidades tradicionais, o conhecimento agroecológico dos assentamentos e o rigor científico acadêmico. A superação da crise exige uma epistemologia da colaboração, não da competição.
II. Eficiência como imperativo — a lição da Caatinga
Num planeta de recursos finitos, eficiência deixa de ser vantagem e passa a ser condição de sobrevivência. Como lembrou a Profª Josicleda (UFPE), “precisamos aprender a ser eficientes como a Caatinga, que consegue sobreviver com 100 mm de chuva em um ano” — metáfora potente ancorada em casos extremos observados.
Mais que ecofisiologia, é crítica à lógica do desperdício que alimenta a crise. Devemos aprender com a inteligência e resiliência dos biomas brasileiros e transpor seus princípios para a economia, as cidades e o modo de vida. Exigimos políticas que premiem a eficiência hídrica e energética, a economia circular e a regeneração dos ecossistemas.
III. Investimento inegociável
Cortar CT&I e educação para “fechar contas” hoje abre déficits maiores amanhã — em produtividade, saúde, clima e soberania. Defendemos recomposição estável dos investimentos, com metas e avaliação de resultados, para transformar conhecimento em competitividade, empregos qualificados e resiliência climática. Sem base científica sólida e autônoma, o Brasil se torna mais vulnerável e dependente, incapaz de gerar soluções tecnológicas e sociais para uma transição justa.
Nossas reivindicações e compromissos
1. Reverter imediatamente quaisquer cortes em CT&I e educação e instituir um Pacto Nacional pelo Futuro, com fontes estáveis de financiamento, tratando essas áreas como infraestrutura estratégica e de segurança nacional.
2. Assegurar, pelo Judiciário, a guarda dos princípios constitucionais de proteção ambiental e de garantia da saúde e educação públicas, vinculando a execução das políticas de enfrentamento da emergência climática.
3. Levar, à COP-30, posição de vanguarda e liderança, baseada em ciência, justiça climática e valorização dos biomas brasileiros e dos povos que neles habitam — protagonizando um novo modelo de convivência com o planeta.
4. Comprometer-se, internamente, a superar “caixinhas” e “egos”, promovendo inter e transdisciplinaridade e estabelecendo diálogos permanentes e horizontais com detentores de saberes tradicionais e com a sociedade civil.
O futuro não é promessa distante: é obra que ainda podemos iniciar agora. Ou aprendemos com a sabedoria da natureza e com a crítica dos povos da terra, ou seremos varridos pela tempestade que ajudamos a criar. Convocamos a sociedade e suas instituições à esperança renovada e à ação urgente e determinada.
Ilhéus, Bahia, outubro de 2025
Rede PRODEMA — Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente

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