sexta-feira, 16 de setembro de 2011

'Mudar para não mudar'

Dilma é criticada por aceitar novo afilhado de Sarney, em vez de técnico

Flávio Freire (flavio@sp.oglobo.com.br) e Gerson Camarotti (gcamarotti@bsb.oglobo.com.br)
O novo ministro do Turismo, Gastão Vieira, conversa com  Edison Lobão, da Minas e Energia, em Fórum do PMDB - Foto de Aílton de FreitasSÃO PAULO e BRASÍLIA - Ao dar o Ministério do Turismo para outro nome indicado pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP) , o mesmo padrinho político do demitido Pedro Novais, a presidente Dilma Rousseff mostra estar refém de um processo atrasado de presidencialismo de coalizão, segundo analistas políticos e líderes da oposição. Para eles, paralelamente ao processo de demissão, Dilma deveria romper com os apadrinhamentos que fogem a critérios de profissionalismo para dar um caráter mais técnico do que político aos ministérios.

A presidente, na avaliação dos analistas, precisaria ter dito publicamente que os postos seriam ocupados por gestores compromissados com a probidade na administração dos recursos públicos e credibilidade - como fez no Dnit, por exemplo. Mas, ao aceitar a indicação de um ministro feita por Sarney, a presidente teria adotado a linha "mudar para não mudar".
- A entrada de Gastão Vieira mostra a fragilidade na montagem dos ministérios e, pior, não dá sinais de uma mudança positiva no horizonte. Falta adotar, do ponto de vista da governança democrática, medidas transparentes e claras. O que existe hoje é um déficit de explicação -, diz o cientista político da USP José Alvaro Moisés.
Gastão Vieira substituiu Pedro Novais, que perdeu o cargo após denúncias de que havia contratado uma governanta e um motorista para sua mulher com recursos públicos. Em outro escândalo, Novais pediu à Câmara dos Deputados o ressarcimento de R$ 2,1 mil gastos numa festa realizada num motel em São Luís, no Maranhão.
Com a ressalva de que não é de responsabilidade da atual presidente o padrão de loteamento espúrio, Moisés lamenta a falta de explicação sobre procedimentos que deveriam ser adotados contra ministros que deixaram o governo por conta de denúncias:
- O que aconteceu com (Antonio) Palocci, com o ministro da Agricultura ou com o ministro do Transporte? Ninguém sabe.
- Não parece ter havido ao longo do dia (de quarta-feira) qualquer consulta para encontrar um nome técnico que pudesse substituir Novais. (A escolha) demorou tantas horas porque o governo ficou refém dos nomes do PMDB, que não levou em conta currículo de gestão, mas de conveniência política. Ou seja, decidiram mudar para não mudar - disse David Fleischer, da Universidade de Brasília (UNB).
A presidente Dilma, na avaliação de Fleischer, pouco levou em conta se o novo ministro poderia suprir as demandas técnicas do posto.
- Ao contrário do que aconteceu nos (Ministério) Transportes, que ela sabia que o galinheiro estava podre e lançou mão de um nome mais técnico, dessa vez a nomeação foi extremamente política - diz.
Para o professor de gestão pública da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo Rui Tavares Maluf, a presidente só tem conseguido agir mediante acontecimentos por conta do governo de cooptação que manteve, principalmente na relação com o PMDB.
- Se permanecidas as condições atuais, a presidente corre risco de se tornar mais refém do que protagonista de seu governo - disse Maluf, com a ressalva de que a situação não pode ser aplicada neste momento por se tratar do primeiro ano de gestão.
Para ele, mais do que uma mudança de fundo na política institucional, o país precisaria ter o engajamento maior da sociedade para tentar minimizar esses problemas.
Oposição critica escolha partidária
Também para políticos de oposição, o espírito da faxina no governo não se reflete na troca no Turismo, pasta que ganhou importância maior com a escolha do Brasil como sede da Copa de 2014 e das Olimpíadas do Rio e que tem um dos maiores índices de corrupção no primeiro escalão do governo. Ainda que o novo ministro, Gastão Vieira, não tenha problemas na Justiça, ele não é, na visão de parlamentares da oposição, a escolha certa para melhorar a gestão no Turismo.
Para o líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR), a troca não resolve e ainda mantém o modelo que causa escândalos de corrupção. O tucano critica o fato de, em vez da qualificação técnica como critério, as escolhas do governo serem apenas partidárias:
- Isso fica ainda mais grave com os eventos da Copa e Olimpíadas, quando a boa gestão do Ministério do Turismo seria fundamental.
Para o presidente do PPS, deputado Roberto Freire (SP), mesmo sendo uma indicação partidária, a responsabilidade política pela escolha do novo ministro é da presidente Dilma.
- Ela tinha que ter escolhidos nomes com boa capacidade de gestão, e não delegar para os partidos essas escolhas.
No campo governista, o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), classificou como adequada a escolha de Gastão Vieira:
- Ele tem o perfil adequado. É um deputado respeitado na Casa e tem capacidade política.

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