O papa não é marxista, tampouco ele está reavivando a "teologia da libertação". Mas ele está determinado a ter uma visão crítica do capitalismo.
A opinião é dos editores do jornal britânico The Guardian, 24-08-2014. A tradução é de Claudia Sbardelotto.
Eis o texto.
O Papa Francisco nunca foi amigo do capitalismo norte-americano. Agora ele está, ou parece estar, reabilitando a teologia da libertação, uma das doutrinas mais contestadas do século passado. Ele elogiou o mártir Oscar Romero, assassinado em sua catedral por se opor à junta em El Salvador, e acelerou o processo de sua beatificação, que tinha sido adiado no Vaticano. Francisco ainda removeu a suspensão dos direitos sacerdotais de Miguel d'Escoto Brockmann, um padre que tinha sido ministro do governo sandinista.
Tudo isso tem relevância para além da sordidez arcana da política da Igreja. Na violenta e, às vezes, selvagem e sangrenta luta de classes travada por toda a América Latina, ambos os lados tiravam conforto teológico do Cristianismo. A direita via seus opositores como comunistas ateus, os quais muitos eram realmente; a esquerda ouvia o comando direto de Jesus para viver com os pobres e marginalizados. O Vaticano posicionou-se firmemente do lado dos opressores.
Isso foi em parte porque na visão de João Paulo II e de seus predecessores, o comunismo parecia obviamente ser o maior inimigo, o marxismo era a maior ilusão a ser enfrentada pela humanidade. Comprometer-se com o inimigo teria destruído a Igreja na Polônia. Seguindo a mesma lógica - ou parecia ser -, comprometer-se com o comunismo em qualquer lugar deveria ser errado. No entanto, há um estilo de marxismo que chega perto de concordar com os católicos sobre o erro aborígene, ou pecado original, do mundo em que vivemos atualmente. Tanto a revolução comunista como a segunda vinda, ambas esperam resolver os mesmos problemas de injustiça e sofrimento, embora o retorno de Jesus tenha a vantagem de que não pode ser testado na prática. Os fiéis não precisam ficar desiludidos da maneira como os marxistas ficam tão frequentemente.
O comunismo foi derrotado tão completamente agora, que a Igreja pode se dar ao luxo de ser magnânima. O que era bom nele pode ser admitido e admirado. A ameaça de uma revolução violenta diminuiu. A necessidade de outros tipos de revolução permanece. O próprio Francisco tem falado de "virar a tortilla" da mudança: a famosa frase de que ele quer "uma Igreja pobre, para os pobres". Mas isso ainda não é uma reabilitação da teologia da libertação. O próprio Romero não era um teólogo da libertação, mas um conservador teológico horrorizado com a selvageria sanguinária da junta em El Salvador.
Francisco também não é um marxista. Ele disse que tem amigos marxistas, mas se ele tem quaisquer ideias políticas, elas talvez sejam peronistas. Isso não é uma categoria que faz sentido em termos europeus, o que não vai incomodá-lo. Talvez a mensagem mais importante dessa mudança é que, no futuro, a visão de mundo da Igreja Católica será menos definida por correntes intelectuais europeias - e muito menos por aquelas dos Estados Unidos.
Bons tempos estão por vir, eu creio!
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