sexta-feira, 8 de maio de 2015

Polo de Informática de Ilhéus corre risco de acabar por falta de infraestrutura e logística

O abandono pelos governos do Estado e do Município agravam deficiências do Polo que, somadas à crise econômica, ameaçam a sobrevivência do complexo que já respondeu por 20% da produção nacional de computadores
Por Lívia Cabral - 
Criado em 1995 para reverter a crise do cacau, o Polo de Informática de Ilhéus encontra-se hoje reduzido à metade do que já foi um dia. A intenção de gerar emprego, renda e maior competitividade para a economia local foi alcançada de início e perdurou até meados da primeira década do século 21. Desde então, e até hoje, a míngua é traduzida nos números. O faturamento anual que já chegou à marca de R$ 2,2 bilhões, atualmente gira em torno de R$ 1 bilhão. 
Em seu auge, o polo reunia 74 fábricas de eletroeletrônicos. Hoje, sobrevivem 38 empresas do setor espalhadas pela cidade.
O número de empregos gerados para o município, que padeceu a decadência após a vassoura-de-bruxa destruir as lavouras cacaueiras, caiu de 2,5 mil para mil. O polo, que no passado alcançou o índice de 20% de participação na fabricação de computadores no Brasil, hoje é responsável por 10% da produção nacional. A crise mundial que afeta a indústria brasileira desde 2008 atingiu fortemente os empresários do setor de informática, mas outros fatores se somaram a isso, culminando no declínio.
Para um estudioso da área, o professor doutor Gesil Sampaio, da Universidade Estadual Santa Cruz (Uesc), em Ilhéus, vários problemas juntos constituem “um estado permanente de crise”. Sampaio aponta a alta do dólar entre 2008 e 2009 como o início do colapso econômico que forçou a maior empresa do Polo de Informática de Ilhéus, a Bitway, a fechar as portas em 2010, sem possibilidade de importar insumos. Muitas tiveram o mesmo destino ou então se transferiram para outros estados.Como justificativa para a agrura permanente estabelecida desde então, o professor sinaliza para questões estruturais. “O projeto do polo nunca esteve completo. O que foi oferecido às empresas não era só incentivo fiscal, mas também infraestrutura física e de logística. A restrição de voos no aeroporto de Ilhéus, por exemplo, reduziu muito a capacidade de produção das indústrias”, assinala.
Positivo fecha fábrica no município
No começo, as indústrias de eletroeletrônicos estavam concentradas numa área de mais de 3,5 milhões de metros quadrados, que constitui o Distrito Industrial de Ilhéus. O espaço, administrado pela Superintendência de Desenvolvimento ndustrial e Comercial do Governo do Estado (Sudic), abriga empresas de diversos setores, como transportes, beneficiamento de cacau, vestuário, informática, etc. A opinião do professor Gesil sobre o projeto imaturo do Polo de Informática é compactuada por empresários, como o presidente do Sindicato das Indústrias de Aparelhos Elétricos, Eletrônicos, Computadores, Informática e Similares de Ilhéus e Itabuna (Sinec), William de Araújo.
Diretor da Accept, indústria voltada à produção de servidores para o mercado corporativo, Araújo veio de São Paulo para instalar sua empresa na Bahia em 2004, atraído pelos incentivos fiscais, que envolvem ICMS, ISS, IPTU, entre outros. Ao partir em busca de uma área dentro do distrito, o executivo percebeu o primeiro grande entrave do polo. “Existem áreas disponíveis no fundo do distrito, com terrenos com declives, lugares de brejo. São espaços em que, se eu fosse fazer uma infraestrutura básica, iria gastar mais do que se comprasse um terreno fora. Cheguei a identificar uns terrenos bons que estavam vazios, mas a Sudic dizia que não estavam disponíveis, possuíam donos. Mas não havia nada funcionando nos locais”, lamenta o empresário.
Hoje, o Polo de Informática está descentralizado, tendo algumas fábricas instaladas em outros locais da cidade. O presidente do Sinec conta que a Positivo Informática, maior do país nesse segmento, acaba de fechar sua fábrica no município, transferindo a produção para a planta já existente em Manaus. Segundo Araújo, o motivo teria sido justamente a dificuldade em conseguir uma área satisfatória dentro do espaço destinado às indústrias. “A expansão deles geraria mais mil novos empregos em Ilhéus”, calcula. Por meio da assessoria de imprensa, a Positivo Informática disse que não irá comentar sobre o assunto.
Do outro lado, o analista técnico da Sudic José Roberto Moreira, contatado pela [B+], nega-se a comentar o caso da Positivo, alegando que houve contato com a empresa, mas o órgão não recebeu solicitação formal sobre a aquisição de um terreno. Ele esclarece ainda que algumas áreas visivelmente desocupadas no Distrito Industrial são fruto de reservas feitas por empresas em fase de trâmites legais para adquiri-las. “As empresas têm seis meses para iniciar a implantação. muitas não conseguem a regularização necessária e não concluem o processo de compra dos terrenos, então essas áreas retornam para a Sudic e são disponibilizadas novamente”, resume Moreira.
Infraestrutura precária
Outros percalços que atravancam o desenvolvimento do polo remetem à falta de uma estrutura física adequada. Para o vice-presidente do Sinec, presidente da Associação do Polo das Indústrias de Eletrônica, Informática e Telecomunicações de Ilhéus e também empresário, Christian Dunce, houve de fato uma falta de planejamento na concepção do polo. “Ao contrário do polo automotivo de Camaçari, o distrito de Ilhéus não foi planejado. Acabaram misturando empresas de informática com as de transportes e beneficiamento de cacau, por exemplo, que usam veículos pesados e acabam danificando muito o asfalto”, opina. A responsabilidade sobre a manutenção da área distrital é dividida entre a Sudic e a prefeitura de Ilhéus. “O descuido com o distrito já era um problema desde que cheguei aqui, em 2004.
“O Polo de Informática de Ilhéus pode acabar por falta de infraestrutura e investimentos na região, sobretudo por parte do governo estadual” – William de Araújo, da Accept
Fica um empurra-empurra dos órgãos governamentais e o lugar acabou abandonado, sem manutenção nenhuma”, relata o executivo da Accept. O motivo para a precariedade dos serviços de coleta de lixo e iluminação pública é resumido pelo secretário de Indústria e Comércio do município, Roberto Garcia: “Não temos estrutura”. Com muitos benefícios e isenções de impostos municipais oferecidos ao Polo de Informática, resta à prefeitura a arrecadação de apenas uma taxa de alvará. Contudo, a Secretaria Municipal da Fazenda não conseguiu formatar, a tempo de publicar nesta matéria, o relatório das arrecadações dos últimos anos.
Competitividade ameaçada
“O fato de não haver terminal alfandegário e um aeroporto maior são detalhes pequenos. Quando você soma todos os fatores, tudo influencia”, afirma William de Araújo, da Accept. Para Christian Dunce, da Daten, as dificuldades econômicas suplantam essas questões, mas ele reconhece que o fato de o município não ter um porto principal para desembarque dos insumos faz o polo perder em competitividade para outros estados. “Pernambuco, por exemplo, tem o Porto de Suape para desembaraço direto das cargas”, lembra o empresário.
Outros estados que se tornaram competitivos na indústria de eletroeletrônicos foram Minas Gerais e Curitiba. De acordo com o presidente do Sinec, esses estados copiaram o modelo de incentivos da Bahia e se tornaram atrativos para empresas do segmento. “Esses lugares criaram distritos industriais decentes, com áreas terraplanadas, muitas vezes até com galpão incluído”, revela William.
A expectativa do empresariado é que a chegada do prometido Porto Sul e da Zona de Processamento de Exportação (ZPE) gere um efeito colateral positivo no incentivo à economia local e fortaleça a região. Porém, caso esses avanços não cheguem, as perspectivas são assustadoras. “O Polo de Informática de Ilhéus pode acabar por falta de infraestrutura e investimentos na região, sobretudo por parte do governo estadual”, atesta William. Segundo ele, se a situação não mudar, daqui a quatro anos o polo deve estar reduzido ao mínimo, com apenas três ou quatro empresas em operação

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