terça-feira, 13 de agosto de 2019

Remover do ambiente as fezes do seu cão não é apenas uma questão de educação!

Tatiani V.Harvey 
Médica Veterinária 
Doutora em Parasitologia/UESC
CRMV/BA 04034
Com certeza, falar sobre a remoção de fezes de cães, nas vias públicas, é banalidade para muitas pessoas, instruídas ou não. No entanto, este é um tema extremamente relevante no âmbito da saúde coletiva. 
Como nova moradora da Cidade Nova, não posso deixar de comentar sobre a grande quantidade de fezes caninas que estão dispersas pelas calçadas do bairro. E aqui temos dois fatos interessantes: em proporção, por estas calçadas perambulam mais cães domiciliados, ou seja, com tutores, do que cães de rua ou semidomiciliados; e, provavelmente, a maioria dos tutores tem um nível elevado de instrução. Bem, antes de alavancar uma reflexão sobre estas constatações, compartilho com vocês algumas observações que fiz ao pesquisar parasitas em fezes de cães, pelas ruas de 40 povoados de Ilhéus. Primeiro, 73,7% das amostras estavam parasitadas. Segundo, observei que a maioria dos tutores que recolhiam as fezes do ambiente peridomiciliar, ou das ruas, o faziam pelo incômodo com o mau cheiro ou por educação, em respeito à família e aos vizinhos. E ninguém pensava em recolhê-las a fim de reduzir o risco de contaminação ambiental por parasitas. E, ressalto que, nestas comunidades, o nível de instrução era muito baixo. 
Agora, vamos voltar à Cidade Nova. Por que os tutores, bastante instruídos, não recolhem as fezes de seus cães? Será que eles não entendem as implicações ambientais e de saúde pública por atrás deste ato? Para mim, obviamente, não. Mas, posso pensar em explicações que escutei durante minhas pesquisas: “Meu cão vai ao veterinário com frequência. Não tem nada. Ele está saudável”.; ou “Meu cão só sai de casa na coleira. Não deixo ele ficar livre quando passeio”; ou “Meu cão toma vermífugo uma vez ao ano”...ou “duas vezes ao ano, então não tem perigo”. Vamos desmistificar estas idéias? 
Ao levar o seu cão para passear, mesmo usando a coleira, você o expõe aos parasitas e suas formas evolutivas presentes no ambiente. Pense! Sabemos que os cães de rua circulam pela cidade. Estes cães não têm cuidado algum, e acabam disseminando várias parasitoses pelo ambiente. Assim, ao entrar em contato com este ambiente contaminado, o seu cão tem uma chance enorme de se infectar. Ou seja, mesmo que tome o vermífugo duas vezes ao ano, ele está exposto à reinfecção, constantemente. E como já comentamos em outro momento, muitas vezes estas infecções são assintomáticas. Você não enxerga um problema de saúde no seu pet! Mas, ele passa a ser um problema de saúde para a sua comunidade ao espalhar fezes contaminadas pelas ruas. Você consegue perceber que esta é uma consciência que independe do nível de instrução, na verdade? Fezes não devem ser recolhidas apenas por educação, mas também, por consideração à saúde alheia. 
Como não adquirimos esta visão na escola, nem em casa, precisamos receber esta informação através de campanhas de Educação Ambiental. Precisamos do comprometimento dos gestores públicos com o tema, tanto para dar a informação como para fiscalizar as ações irregulares. Leis como a no 18.554/2019, implementada em Recife, e a lei no 6.202, no Distrito Federal, cobram esta responsabilidade dos tutores. Enfim, lembre-se que seu cão não frequenta somente as calçadas, mas as praças e outras áreas de lazer que seus filhos, amigos, vizinhos e outros cidadãos frequentam.

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