segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Saúde por interesse, não pela necessidade.

Tatiani V.Harvey 
Médica Veterinária 
Doutora em Parasitologia/UESC
CRMV/BA 04034
No período de transição entre uma eleição e outra muitos candidatos buscam uma bandeira onde pendurar-se. Dentre as mais populares, senão a mais popular, está a bandeira da saúde. Uma estratégia convencionada, tão eficaz e persuasiva, que norteia os votos desde a conquista da democracia. 
Confesso que meu voto, na última eleição, foi conduzido pelo meu desejo de ver as comunidades rurais melhor assistidas na área da saúde, especialmente porque a bandeira foi levantada por um profissional da área, que teve um apoio maciço deste público. Fui decepcionada, mais uma vez. Poucos foram os ganhos concretos, na verdade, mesmo em zona urbana, ao longo desta última gestão. Muito se fala, mas as ações são morosas. 
Em algumas semanas estarei deixando o Município de Ilhéus, levando lembranças incríveis da exuberância natural deste lugar e da alegria contagiante do seu povo, e da certeza de que o povo baiano é tão trabalhador como qualquer outro dentro do território nacional. No entanto, não posso sair sem registrar, aqui, minha frustração ao procurar a gestão pública para contribuir com o Programa Saúde na Escola (PSE), ao qual a prefeitura readeriu, neste último ano. 
Este programa tem por objetivo a integração permanente dos setores da educação e da saúde, visando a melhoria da qualidade de vida da população. Para isso, promove ações voltadas a uma faixa etária específica de estudantes de escolas públicas. Dentro da esfera da saúde, uma das estratégias do programa e utilizada no controle de verminoses é a administração de uma dose de albendazol nos estudantes de escolas selecionadas. E é neste ponto que eu entro. Ou melhor, que eu tentei colaborar. 
Durante meu doutorado, trabalhei com 40 comunidades rurais, coletando amostras de crianças e cães de todos os distritos do município. Este estudo mostrou que 68% das crianças e 77% dos cães tinham verminoses. Esse dado é importante para você? Como foi feita a distribuição espacial das parasitoses, conseguimos determinar os distritos e povoados que mais têm a necessidade de serem assistidos com programas preventivos. Com isso, poderíamos auxiliar o município na seleção das escolas a serem priorizadas pelo PSE. Depois de algumas tentativas junto à Secretaria da Saúde, consegui apresentar meus resultados para um grupo de cinco pessoas. Ofereci meus dados e meus serviços colaborativos como integrante dos Grupos de Trabalho Intersetorial. Bom, acredito que irei embora sem ter sido chamada. E isso não é uma questão de orgulho! 
Um dos propósitos do PSE é a promoção da saúde e das atividades preventivas, incluindo as verminoses. Entre os atores envolvidos neste programa estão incluídas as universidades, uma vez que elas podem fornecer subsídios para a “leitura técnica” da situação municipal em diversas áreas da saúde, contribuindo para a confecção dos Projetos Municipais. Desta forma, as escolas não seriam selecionadas às escuras, mas sim a partir de dados fundamentados na prevalência e diversidade parasitária de cada localidade a que pertenciam. Estes dados otimizariam as ações e resultariam na maior eficácia do programa, não em gasto de dinheiro público com estratégias mal delineadas. Um detalhe importante é que todas as escolas previamente selecionadas são de área urbana. E o compromisso com as comunidades rurais? O compromisso com a seriedade e qualidade do PSE? 
Sem mais delongas, o município queixa-se que a universidade não contribui com trabalhos voltados para a região. Então? Os dados foram fornecidos. E não houve interesse. Não houve comunicação ou discussão. Assim, levo na mala toda a experiência, a informação e a desesperança de uma Ilhéus melhor.

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