terça-feira, 7 de janeiro de 2020

A globalização das doenças

Tatiani V.Harvey 
Médica Veterinária 
Doutora em Parasitologia/UESC

CRMV/BA 04034
@tatiani_harvey
Como toda a ação gera uma reação, o processo de aproximação cultural advindo da globalização resultou em grandes avanços no desenvolvimento da sociedade humana e, com estes, diversos efeitos colaterais, entre os quais inclui-se o compartilhamento de doenças. 
Mas, para entender este efeito em particular é preciso assumir que o fluxo de doenças é bilateral, ou seja, desloca-se nos dois sentidos entre os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento. Para você entender onde quero chegar, a coluna de hoje foi baseada em conversas que tive sobre parasitas e transmissão de doenças parasitárias com alguns cidadãos americanos de classe média alta. Em cada uma destas conversas, constatei dois fatos muito impressionantes: a crença de que doenças parasitárias são comuns apenas em países pobres ou tropicais, e a crença de que estas doenças ou diversas delas, especialmente as intestinais, não são comuns nos EUA ou, até mesmo, inexistem no país. Fiquei impressionada com isso e fui pesquisar mais sobre esta visão, que foi confirmada pelos textos publicados pelo CDC (Centro de Prevenção e Controle de Doenças dos EUA). Para você ter uma ideia melhor da fragilidade da informação em saúde na América, toxoplasmose, cisticercose, Doença de Chagas, toxocaríase e tricomoníase estão entre as cinco doenças parasitárias mais comuns na população americana, conforme o CDC. E nenhuma delas está incluída na lista nacional de doenças notificáveis. Além disso, muitos nunca ouviram falar nestas infecções. E você, já ouviu falar ou sabe algo sobre elas? Estas doenças também são muito comuns no Brasil. E, para ser mais clara, estas ou algumas delas são comuns no mundo inteiro. O que acontece é que elas não são informadas ou, até mesmo, notificadas.
É perfeitamente compreensível, então, que cidadãos americanos e brasileiros, por exemplo, podem disseminar doenças pelo globo, da mesma forma. A ironia é que muitos americanos, ou cidadãos de qualquer outro país, não viajam para os países tropicais, justamente para evitar “infecções do terceiro mundo”, mas, provavelmente, outros deles já deixaram seus parasitas por aqui. 
Hoje, é preciso ter em mente que a facilitação do contato social entre culturas diferentes nos expõem, também, a diferentes conceitos e hábitos sanitários e, com isso, o risco de disseminação de infecções aumenta. Imagine a potencialização desta situação em períodos festivos, férias ou em locais que costumam receber turistas, continuamente. 
E o que podemos tirar de toda essa conversa? Mais uma vez, a relevância da Educação em Saúde, agora, num contexto global. A informação em saúde precisa ser, obrigatoriamente, popularizada. Pois, se João pode transmitir infecção para Jack e Jack para João, todos, independentemente de onde, precisam de prevenção. 

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