Tatiani V.Harvey
Médica Veterinária
Doutora em Parasitologia/UESC
CRMV/BA 04034
Contato: tvharveyvet@gmail.com
@tatiani_harvey
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Formas de educar em saúde têm sido estudadas, discutidas e rediscutidas, desde o surgimento do tema, em 1909. Obviamente, ao longo dos anos, conceitos, objetivos e estratégias foram sendo moldados pelo desenvolvimento dos setores de educação e saúde, bem como pelas mudanças de paradigmas nestas áreas. No entanto, um ponto importante foi historicamente marginalizado: o papel dos pais como educadores de saúde e agentes de transformação da realidade individual e coletiva.
Hoje, o conceito de saúde fundamenta-se num modelo biopsicossocial, que vai além dos agendes causais e transmissores de doenças, contemplando componentes psicológicos e fatores sociais. Assim, considerando a influência da instituição familiar como a base da formação de cada indivíduo, como ignorar que o nosso primeiro conhecimento em saúde é ganho dentro de casa?
O Ministério da Saúde e o SUS, uma das legislações de saúde mais bem elaboradas do mundo, já vivenciam os conceitos mais modernos em saúde. No entanto, ao longo de todos estes anos, tivemos muitos programas voltados à atenção básica e saúde da família que não cumpriram ou cumprem o seu propósito. A informação e as ações nunca chegaram ou foram trabalhadas seguindo fielmente suas redações, em muitas comunidades brasileiras. Tivemos e temos muitos investimentos em capacitação de profissionais de saúde para cumprir tal propósito, mas o desfecho nunca acontece.
Então, por que não focar em outro ponto, o núcleo familiar, reconhecer a importância da transmissão de valores morais e sociais pelos pais e criar comprometimento com a causa? É fato que grande parte das informações captadas dentro do lar perpetuam-se através das gerações.
Sabemos que a agitação da vida moderna, além da tecnologia, resulta na negligência com as reponsabilidades maternas e paternas. Quase não se escuta mais a ordem mais chata da infância: Vá lavar as mãos antes de comer! Durante um dos meus trabalhos, observei que muitas mães apenas exigiam que os filhos lavassem as mãos antes do almoço. Ou que apenas exigiam a lavagem após brincadeiras com terra. Ví muitas crianças brincando descalças em comunidades urbanas e rurais, em ruas impregnadas de fezes caninas, as quais podem ser fontes de doenças intestinais. Ví até uma professora jogando uma sacola plástica vazia pela janela de um ônibus em movimento! Quantos pais colocam seus filhos dentro do carrinho do supermercado? Será que eles sabem que aquele solado sujo pode albergar ovos de parasitas? Quantos pais deixam seus cães livres nas ruas? Quantos recolhem os dejetos de seus cães? Outro dia, em Ilhéus, observei um cão sendo guiado por três meninas durante um passeio numa praça. Após o animal defecar, iniciou-se uma discussão sobre a remoção das fezes. Uma menina dizia: “Você precisa tirar o cocô do chão!” E a outra, dona de si, disse: “Eu não! Nem minha mãe recolhe!” Quantos pais permitem que seus filhos descartem lixo no chão? Quantos pais permitem que seus filhos pisem em lugares onde pessoas sentam? Quantos pais permitem o acesso dos cães e gatos às camas, sofás, aos abraços e beijos de seus filhos, sem prover cuidados veterinários a estes animais? E por aí vai...
Ao meu ver, a construção de uma saúde pública de qualidade deve estar alicerçada na educação, especialmente, de base familiar, através de pais conscientes. Ao contrário do que a indústria alimentícia e tecnológica faz, precisamos usar o desenvolvimento das crianças de forma positiva, deixemos de viciá-las com doces, vídeo-games e batatas-fritas, e passemos a dar a elas conhecimento e saúde.
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