domingo, 23 de fevereiro de 2020

Saúde Publica: a negligencia com a saúde animal e o controle de zoonoses

Tatiani V.Harvey 

Médica Veterinária 
Doutora em Parasitologia/UESC
CRMV/BA 04034
@tatiani_harvey
Quando as doenças transmitidas por cães, além da raiva, serão alvejadas, efetivamente, pelas autoridades de saúde? O país precisa, com urgência, de políticas públicas voltadas para a população de animais, especialmente os animais de estimação. Há quanto tempo fala-se em guarda responsável, sem nenhuma ação consistente sobre o tema? Não temos, ao menos, um censo animal! A causa virou, certamente, apenas bandeira política, com ressalva a pouquíssimos municípios brasileiros. 
Refletindo sobre a realidade do município, em Maio de 2019, estava lá, estampada na capa do Diário de Ilhéus, a alta prevalência de infecções parasitárias entéricas nos cães de 40 povoados rurais deste município. Entre as doenças relatadas, foram detectadas parasitas potencialmente zoonóticos como Ancylostoma, agente causador da Larva migrans cutânea (bicho geográfico) e, mais raramente, da ancilostomíase; os principais protozoários causadores de doenças diarreicas, Giardia e Cryptosporidium; e Toxocara, agente causador da Larva migrans visceral e ocular. Ancylostoma e Giardia foram detectados em todos os distritos de Ilhéus, Cryptosporidium e Toxocara em sete deles. 
Não recebemos nenhum contato, nem ao menos por curiosidade. Nem ao menos o interesse em saber quais as doenças mais relevantes para a saúde pública ou em discutir sobre prevenção e controle em áreas prioritárias. Levamos a informação a rádio Santa Cruz e a Secretaria de Saúde. Na última, após duas tentativas frustradas, os dados foram apresentados para um grupo de quatro pessoas, no intuito de contribuir com o Programa de prevenção e controle de geohelmintos e, especialmente, com a seleção de escolas em áreas prioritárias. Levei comigo duas perguntas: “O que você quer da prefeitura? ” e “Por que você não faz um trabalho de prevenção através da UESC ?”. Ao meu ver, não foi a postura adequada de um agente de saúde pública. 
E aí voce pergunta a si mesmo: Como trabalha-se com saúde pública sem considerar a saúde animal, especialmente de animais tão próximos do homem? Na verdade, aqui temos mais um caso de negligência tanto com a população rural quanto com a população canina. Estas são algumas reflexões que eu trago pra vocês. A sociedade precisa refletir e posicionar-se sobre isso. E difícil imaginar que uma autoridade de saúde esteja a margem do conceito contemporâneo de saúde, frisado incansavelmente pela Organização Mundial da Saúde, a qual norteia os programas preventivos de doenças entéricas em todo o mundo, incluindo o Brasil. A palavra chave em saúde, hoje, é integração. Não esqueçamos disto! A integração de conhecimento é essencial para o delineamento de ações em saúde pública. 
No caso de Ilhéus, faço questão de salientar que temos pessoas extremamente competentes dentro da Unidade de Vigilância de Zoonoses, mas que precisam de valorização e apoio. Ninguém trabalha bem de mãos atadas. Aliás, este é um outro grande gargalo da saúde pública de Ilhéus. 
Finalizando, a base das discussões sobre saúde animal e seu vínculo com a saúde pública deve ter suporte na legislação municipal. Por falar nisso, há meses atrás, em colaboração com o poder público legislativo, revisamos, intensamente, a lei 3257/2006, que trata da vigilância de zoonoses. Tomara que este trabalho não tenha sido em vão e não tenha sido engavetado pra esperar um momento político oportuno. 

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