segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Veterinários e o seu papel na vigilância do novo Coronavírus (2019nCoV)

Tatiani V.Harvey 
Médica Veterinária 
Doutora em Parasitologia/UESC
CRMV/BA 04034
@tatiani_harvey
A rápida disseminação de casos de infecção pelo 2019nCoV, exige que as autoridades de saúde do mundo inteiro mantenham-se em alto nível de alerta e, dentro deste grupo, devem incluir-se todos os médicos veterinários, obrigatoriamente. 
A família dos vírus Coronavírus, normalmente circulante em animais, é muito ampla, sendo sete deles capazes de infectar seres humanos, causando síndromes respiratórias graves. Nos últimos 20 anos, a humanidade conheceu dois Coronavírus letais, o MERS, que matou 3 entre cada 10 pacientes infectados, e o SARS, com uma taxa de mortalidade que variou entre 0 a 50% dos casos. O MERS disseminou-se, principalmente, através de dromedários, já o SARS, através de um parente do guaxinim, o civeta. 
Os casos humanos do 2019nCov surgiram num mercado aberto de frutos do mar e carnes exóticas, na cidade chinesa de Wuhan. Neste local é comercializada a carne de mais que 100 espécies animais, incluindo a baleia Beluga, que é capaz de hospedar o vírus. No entanto, cientistas afirmam que há uma maior probabilidade de que a transmissão tenha ocorrido através de cobras, coelhos, galinhas ou morcegos. E a identificação da espécie que deu origem à infecção e a determinação do seu papel enquanto reservatório animal é essencial para o controle efetivo da doença. Mas, de ser uma zoonose, a transmissão da doença entre pessoas, tem ficado aparente na maioria dos casos. 
No Brasil, uma vez que ainda não se sabe se este vírus tem algum impacto na saúde dos animais, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, através do Departamento de Saúde Animal da Secretaria de Defesa Agropecuária, faz algumas recomendações, a fim de promover o monitoramento da situação, a prevenção e a redução de risco de transmissão de doenças emergentes de animais e produtos de origem animal para seres humanos. Entre elas, incluem-se: não abater animais doentes para consumo; enterrar ou destruir com segurança a carcaça de animais mortos; usar roupas protetoras adequadas para manejar carcaças e fluidos; em visitas a mercados ou feiras de venda de animais vivos, carnes, peixes ou produtos de origem animal frescos, aplicar medidas gerais de higiene e prevenção, como: lavagem das mãos após tocar os animais e produtos de origem animal; evitar tocar nos olhos, nariz ou boca com as mãos e evitar contato com animais doentes ou produtos animais deteriorados; preferencialmente, evitar o contato com animais de origem desconhecida como gatos e cães vadios, roedores, pássaros, morcegos, e o contato com resíduos ou fluidos animais potencialmente infectados; evitar o consumo de produtos animais não inspecionados, crus ou malcozidos; manusear, cuidadosamente, carne crua, leite ou órgãos animais, a fim de evitar contaminação cruzada entre alimentos crus, conforme as boas práticas de higiene alimentar; todos os trabalhadores de matadouros, veterinários responsáveis pela inspeção de animais e produtos de origem animal, trabalhadores em locais de manipulação de animais vivos e produtos animais frescos devem fazer uso de roupas e equipamentos de proteção individual e adotar boas práticas de higiene pessoal e operacional, para evitar a contaminação antes, durante e após manusear animais e produtos de origem animal. 
Enfim, tanto os clínicos veterinários, quanto os veterinários atuantes nos setores de vigilância devem manter um alto nível de vigilância e relatar às autoridades veterinárias qualquer evento incomum detectado em qualquer espécie animal. É muito importante que qualquer suspeita de doença exótica ou emergente, ou mudança no perfil epidemiológico de doenças animais seja notificada imediatamente ao Serviço Veterinário Oficial.

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