Dra. Tatiani V. Harvey
Médica Veterinária
Mestre e Doutora em Ciência Animal
Ênfase em Doenças Parasitárias
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Ainda na gestão do Ministro Luiz Enrique Mandetta grande parte dos profissionais de saúde de nível superior do país, incluindo os Médicos Veterinários (vide Resolução 218/97), foram cadastrados e capacitados para auxiliarem no enfrentamento à pandemia do coronavírus (COVID-19), através da Ação Estratégica "O Brasil Conta Comigo - Profissionais da Saúde, implementada pelo Ministério da Saúde.
A convocação obrigatória de Médicos Veterinários devolveu o brilho aos olhos de muitos colegas, como eu, esperançosos de que a nossa categoria tenha, finalmente, a chance de mostrar suas múltiplas habilidades, no que tange a Saúde Pública. De revelar o seu valor para aqueles que ainda enxergam os veterinários apenas como clínicos de animais, a exemplo do cidadão comum e de diversos outros profissionais da área da saúde.
No entanto, este recrutamento de veterinários foi e continua sendo mal-entendido por muitos colegas da área e, inclusive, por colegas da categoria. Eu mesma tive o infortúnio de receber a seguinte pergunta de um familiar: “Mas por que treinar veterinários, eles não têm nada a ver com a área da saúde?!” A falta de compreensão da gama de possíveis competências do médico veterinário ficou evidente, também, no formulário a ser preenchido para o acesso à capacitação. Os campos de pós-graduação estavam bloqueados para nós. Incrível esta visão! É como se o Brasil não tivesse veterinários residentes, especialistas, mestres e doutores como as demais profissões. E aí você pode estar se perguntando: mas como um veterinário poderia ajudar nesta situação? -- eu escolhi uma pergunta polida, diferente de muitas que ouvimos por aí.
Por incrível que pareça, durante a graduação, nós veterinários, estudamos epidemiologia, parasitologia, doenças infecciosas, medicina preventiva, técnicas de biotecnologia, além de apenas anatomia, clínica e cirurgia. Nas pós-graduações, muitos aperfeiçoam-se em técnicas moleculares, parasitologia, virologia, epidemiologia e saúde pública, as quais são áreas que justificam a nossa participação neste tipo de ação. E cada profissional segue um caminho afim com suas habilidades. Poderíamos estar nos laboratórios, acelerando os resultados atrasados dos testes, por exemplo. Desta forma, a visão de “clínico de animais” é ultrapassada. E, na verdade, desde os primeiros anos do século XIX, quando o próprio Tenente Coronel João Muniz Barreto de Aragão, médico, Patrono do Serviço de Veterinária do Exército e idealizador da Escola de Veterinária do Exército brasileiro, reconheceu a necessidade da participação de veterinários na prevenção e controle de doenças transmissíveis ao homem, ou melhor, nas ações de Saúde Pública.
Mas, como resgatar este valor, este reconhecimento, este respeito? Ao meu ver, a desunião da categoria é o nosso gargalo. Sem falarmos a mesma língua, sem corporativismo, sem contrapormos a falta de respeito com a profissão, e sem a real noção dos nossos limites profissionais iremos sempre ser vistos como meros “capa gatos”.
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