sexta-feira, 1 de maio de 2020

Coronavírus e Veterinários: qual a relação? A resposta clama pela união da categoria

Dra. Tatiani V. Harvey 
Médica Veterinária
Mestre e Doutora em Ciência Animal
Ênfase em Doenças Parasitárias
Ainda na gestão do Ministro Luiz Enrique Mandetta grande parte dos profissionais de saúde de nível superior do país, incluindo os Médicos Veterinários (vide Resolução 218/97), foram cadastrados e capacitados para auxiliarem no enfrentamento à pandemia do coronavírus (COVID-19), através da Ação Estratégica "O Brasil Conta Comigo - Profissionais da Saúde, implementada pelo Ministério da Saúde.
A convocação obrigatória de Médicos Veterinários devolveu o brilho aos olhos de muitos colegas, como eu, esperançosos de que a nossa categoria tenha, finalmente, a chance de mostrar suas múltiplas habilidades, no que tange a Saúde Pública. De revelar o seu valor para aqueles que ainda enxergam os veterinários apenas como clínicos de animais, a exemplo do cidadão comum e de diversos outros profissionais da área da saúde.
No entanto, este recrutamento de veterinários foi e continua sendo mal-entendido por muitos colegas da área e, inclusive, por colegas da categoria. Eu mesma tive o infortúnio de receber a seguinte pergunta de um familiar: “Mas por que treinar veterinários, eles não têm nada a ver com a área da saúde?!” A falta de compreensão da gama de possíveis competências do médico veterinário ficou evidente, também, no formulário a ser preenchido para o acesso à capacitação. Os campos de pós-graduação estavam bloqueados para nós. Incrível esta visão! É como se o Brasil não tivesse veterinários residentes, especialistas, mestres e doutores como as demais profissões. E aí você pode estar se perguntando: mas como um veterinário poderia ajudar nesta situação? -- eu escolhi uma pergunta polida, diferente de muitas que ouvimos por aí. 
Por incrível que pareça, durante a graduação, nós veterinários, estudamos epidemiologia, parasitologia, doenças infecciosas, medicina preventiva, técnicas de biotecnologia, além de apenas anatomia, clínica e cirurgia. Nas pós-graduações, muitos aperfeiçoam-se em técnicas moleculares, parasitologia, virologia, epidemiologia e saúde pública, as quais são áreas que justificam a nossa participação neste tipo de ação. E cada profissional segue um caminho afim com suas habilidades. Poderíamos estar nos laboratórios, acelerando os resultados atrasados dos testes, por exemplo. Desta forma, a visão de “clínico de animais” é ultrapassada. E, na verdade, desde os primeiros anos do século XIX, quando o próprio Tenente Coronel João Muniz Barreto de Aragão, médico, Patrono do Serviço de Veterinária do Exército e idealizador da Escola de Veterinária do Exército brasileiro, reconheceu a necessidade da participação de veterinários na prevenção e controle de doenças transmissíveis ao homem, ou melhor, nas ações de Saúde Pública.
Mas, como resgatar este valor, este reconhecimento, este respeito? Ao meu ver, a desunião da categoria é o nosso gargalo. Sem falarmos a mesma língua, sem corporativismo, sem contrapormos a falta de respeito com a profissão, e sem a real noção dos nossos limites profissionais iremos sempre ser vistos como meros “capa gatos”.

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