terça-feira, 24 de novembro de 2020

Jesus, o Cristo, rei e justo juiz

A Igreja católica, de maneira muito pedagógica, celebra de forma muito organizada a sua liturgia, a partir de tempos muito específicos durante o ano, chamados de tempos litúrgicos. O ano litúrgico, diferente do ano civil, tem seu início no primeiro domingo do advento e seu termino na solenidade de Cristo Rei, essa geralmente no penúltimo ou último domingo de novembro. Esse dia do encerramento do ano litúrgico é marcado pela solenidade de Jesus Cristo, Rei do universo!
Pe. Damião Conceição de Souza borges[1]
Esta solenidade oportuniza diferentes reflexões sobre concepções acerca da pessoa de Jesus, o Verbo encarnado (cf. Jo 1,14), que sendo Deus, aceitou fazer-se homem, para santificar, com a sua vinda à terra, a natureza humana, como bem afirma Santo Agostinho: “Deus se fez homem para que o homem se tornasse Deus” (cf. https://cleofas.com.br/deus-se-fez-homem-para-que-o-homem-se-tornasse-deus/). A liturgia que encerra o ano celebrativo é especial, uma vez que canaliza as atenções para a descoberta de um pastoreio Divino, que se encontra com as realidades humanas. 
Em geral há uma notoriedade na forma de olhar a pessoa de Jesus como o bom pastor (cf. Jo 10, 11); o amor que não sabe não amar (cf. Jo 15,9); aquele que é o tudo do Pai para o ser humano, etc. Todos esses qualitativos são verídicos e tantos outros, que possibilitam uma compreensão sobre a amabilidade desse Homem-Deus; ele que amou a humanidade até as últimas consequências, tendo a cruz como sinal sensível dessa verdade (cf. Fl 2,8). 
No entanto, o capítulo 25 do texto do Evangelho segundo Mateusapresenta uma característica da pessoa de Jesus bastante singular. Ele é o bom pastor, assinalado em sinais prefigurativos no texto do Antigo Testamento; Ele é entendido como aquele que procura e cuida da ovelha perdida, “reconduz a extraviada, enfaixar a da perna quebrada, fortalece a doente, e vigia aquela gorda e forte”. (cf.Ez 34, 16). Mas esteSenhor que cuida das ovelhas, faz igualmente justiça, quando afirma: “eu farei justiça entre uma ovelha e outra, entre carneiros e bodes”. (Ez 34,17). 
Em tom elucidativo, pode-se notar nas Sagradas Escrituras que o mesmo Jesus, que é manso e humilde coração (cf. Mt 11,29), é justo juiz (cf. II Tm 4,8), que vira para julgar os vivos e os mortos e o seu Reino não terá fim (cf. Credo Niceno constantinopolitano). Mas, que Reino é esse? A resposta contundente, a que os contemporâneos de Jesus não entenderam, é que não é um Reino terreno, com características humanas, com as prioridades das grandes e pequenas nações. É um Reino “da verdade e da vida, reino da santidade e da graça, reino de justiça, do amor e da paz”. (cf. Missal Romano, Prefácio da Solenidade de Cristo Rei). 
Diante de tantas potências humanas, desejosas de subjugação, a liturgia católica apresenta um Rei que tem como meio de locomoção um jumento (cf. Lc 19,35-37); uma coroa de espinhos (cf. Jo 19,2); um tribunal que só perdoa (cf. 8, 10-11); e sua única arma é o amor por todos, que quer contagiar (cf. Jo 15,17). 
Todavia, diferente dos reinos humanos e mundanos, que a história faz questão de mostrar que têm tempo determinado, finito e efêmero, ruindo mais cedo ou mais tarde, o Reino deste Rei é perene e que, em momento oportuno, o Pastor reunirá as ovelhas que esperaram nele e as porá de um lado e na outra extremidade, porá os cabritos. A uns dirá vinde benditos – aqueles que muito amarem - e a outros dirá afastai-vos malditos – os que pouco amarem (cf. Mt 25). 
É verdade que essa realidade de julgamento de Deus é sempre perturbadora, por causa da falsa impressão que em Deus só há amor. Porém, ainda que a essência de Deus seja amor, nele também há justiça, que é realizada da maneira mais simples possível, ou seja, a justiça de Deus intervém sempre nas escolhas humanas, uma vez que “a consciência é o centro mais secreto e o santuário do homem, no qual se encontra a sós com Deus, cuja voz se faz ouvir na intimidade do seu ser. Graças à consciência, revela-se de modo admirável aquela lei que se realiza no amor de Deus e do próximo”.(cf GS, 16). 
Mas atenção, o verdadeiro amor compromete; é assim que Deus ama. Não um amor efêmero, descartável e fútil; o amor de Deus é profundo, que se envolve. Outrossim, ninguém pode viver sem refletir sobre a existência sobre as realidades da vida. Por fim, no último momento da nossa existência humana, seremos julgamos pelo amor. 
Que o Bom Pastor ajude a todos a persegui esse caminho perseverante! 

[1]Presbítero da Diocese de Ilhéus. Licenciado em Filosofia pela FBB, Bacharel pela UCSAL, chanceler da Cúria diocesana de Ilhéus e mestrando em Direito Canônico pelo Pontifício Instituto Superior de Direito Canônico do Rio de Janeiro, agregado à Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.

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