Após ler a matéria sobre o descarte de lixo no Rio Almada pela comunidade do Banco do Pedro na edição do Diário de Ilhéus do dia 06 de novembro de 2020, questionei-me sobre o posicionamento dos “ambientalistas de plantão” que voltam seus megafones, ocasionalmente, para as causas ambientais de Ilhéus. Não seria a preocupação com a poluição do Rio Almada tão importante como a poluição das praias ou o desalojamento das maritacas do centro de Ilhéus? Será que a negligência com Rio Almada dá menos visibilidade às bandeiras ambientalistas? Seria a condição do Rio Almada menos preocupante que a condição do Rio Cachoeira? Ou do Rio Santana?
Dra. Tatiani Harvey
Médica Veterinária - Especialista em Clínica de Pequenos animais
Doutora em Ciência Animal, com ênfase em Doenças Parasitárias -
Colaboradora do One Health Institute Heukelbach.
Contato:@dra_tatiani_harvey
A verdade é que a poluição do Rio Almada ocorre há anos, desde o estabelecimento da primeira comunidade ribeirinha à margem do seu leito. Hoje, uma diversidade de poluentes vem, gradativamente, ganhando o curso do rio, ao longo das inúmeras comunidades estabelecidas no seu entorno. Mas, não culpemos apenas a comunidade do Banco do Pedro pelo fato! Considerando apenas a parte da bacia hidrográfica que atende o município de Ilhéus, além do descarte de lixo, há escoamento de resíduos de esgoto e despejo de produtos químicos utilizados nas atividades domésticas e de higiene pessoal e animal realizadas no rio. E não esqueçamos das fossas, sépticas ou não, construídas em desacordo a NBR específica, e que podem estar contaminando o rio, indiretamente. E outro fato é que, há anos, a administração pública faz vista grossa para esta situação. Os ambientalistas, também!
Em 2012, um grupo constituído por pesquisadores da UESC, UNEB, UFV e EMBRAPA publicaram o estudo “Relação qualidade da água e fragilidade ambiental da Bacia do Rio Almada, Bahia”, que abordou a fragilidade ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Almada (BHRA) e o impacto na qualidade da água. O estudo, que partiu da avaliação da água em 12 pontos de coleta ao longo dos 1.575 km² abrangidos pela bacia, indicou um Índice de Qualidade da Água em Resposta à Fragilidade Ambiental regular em dois pontos (Almadina e Iguape/Ilhéus) e um índice bom nos pontos restantes (Jusante de São Roque, Montante de Coaraci, Jusante de Coaraci, Jusante de União Queimadas, Jusante de Itajuípe, Ponte Br-101, Jusante de Uruçuca, Ponte Rodovia Ilhéus-Uruçuca, Lagoa Encantada e Jusante de Sambaituba). No entanto, pergunto-me se esta classificação seria a mesma se cada município fosse avaliado, independentemente. E amostras fossem coletadas em todas as comunidades ribeirinhas localizadas em todos municípios englobados por esta bacia, sejam eles Almadina, Coaraci, Ibicaraí, Barro Preto, Itajuípe, Itabuna, Ilhéus e Uruçuca. Este tipo de estudo, ou de vigilância, poderia compor a pauta dos ambientalistas locais. Especialmente, pela abrangência intermunicipal da bacia.
A qualidade da água que abastece estas comunidades deveria ser um dos pontos mais importantes da pauta da Secretaria da Saúde. Mas, como foi bem pontuado pela moradora do Banco do Pedro, Ângela Santos, cuja comunidade só recebe atenção no período da Festa do Senhor do Bonfim, o descaso com estas populações traduz-se na execução de ações, infinitamente, menos importantes, como a pintura de praças, por exemplo. Infelizmente, é fato que a condição de vulnerabilidade social destas comunidades resulta em impactos ambientais negativos. A falta de saneamento básico, a falta de água potável, as deficiências do sistema de coleta de lixo, o planejamento ineficaz da educação em saúde, e a despreocupação com a vigilância ambiental, entre outros problemas, culminam na poluição de rios como o Almada. E qual seria a solução para este problema? Inicialmente, investindo em saúde, ou seja, em infraestrutura e vigilância. Entretanto, talvez, esta solução seja a explicação para a perpetuada vista grossa. Como preservar os rios sem gastar, ou sem proporcionar a vida decente almejada pela nossa Constituição Federal para cada um dos moradores de áreas vulneráveis? Não seria este um prato cheio para os defensores do meio ambiente?
Tomando toda esta realidade em consideração, fico intrigada com o fato do Rio Almada ser, vamos dizer, lembrado apenas com a chegada do Porto Sul, após todos estes anos de descaso.
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