sábado, 8 de maio de 2021

Febre aftosa: um desafio para a economia e para a saúde pública

Certamente, muita gente já ouviu falar sobre a febre aftosa. Mas, será que todos sabem o que é esta doença? A partir de 1º de maio deu-se início a primeira etapa de mais uma campanha de vacinação contra a febre aftosa em bovinos e bubalinos, no Brasil. Neste mês, ainda, os estados do Acre, Paraná, Rio Grande do Sul e alguns municípios dos estados do Amazonas e Mato Grosso poderão ser considerados áreas livres da doença, sem necessidade de vacinação, pela OIE. Você sabe qual a implicação deste status para a saúde pública?
Tatiani V. Harvey
Médica Veterinária
Doutora em Ciência Animal com ênfase em Doenças Parasitárias
Especialista em Clínica de Pequenos Animais
Colaboradora do One Health Institute Heukelbacha
A febre aftosa é uma doença viral altamente contagiosa, que se caracteriza, especialmente, pelo aparecimento de vesículas e bolhas na cavidade oral, nasal, no úbere, nos espaços interdigitais e na banda coronária das patas de bovinos, bubalinos, ovinos, caprinos e suínos, principalmente. Após o período de incubação, que dura entre 3 a 8 dias, mas pode chegar a 21 dias, aparecem sinais clínicos como febre, surgimento e ruptura de vesículas e bolhas, salivação, descarga nasal, anorexia e depressão, que conduzem ao emagrecimento, à laminite, à mastite, resultando na redução da produção de leite e retardo no crescimento das crias. A transmissão pode ocorrer através do contato direto entre os animais infectados por meio da ingestão ou inalação de partículas virais presentes em secreções e excreções, ou pelo contato indireto através de superfícies ou qualquer outro vetor potencial contaminado, a exemplo do próprio homem, através de suas roupas e sapatos, e dos veículos, instrumentos cirúrgicos ou produtos de origem animal.
No âmbito da saúde pública, o principal desafio é o impacto econômico negativo gerado pelas perdas nas cadeias produtivas da carne e do leite de bovinos e bubalinos. A presença da doença no gado torna-se um entrave para o fluxo da economia de países como o Brasil, por exemplo, que tem no setor de agronegócios os maiores ganhos da sua balança comercial, e que alicerçam sua estabilidade econômica. Ressalto, ainda, que, hoje, a associação estreita da saúde pública com o perfil sócioeconômico de uma população é um fato. Diante desta realidade, a erradicação da febre aftosa é uma via extremamente importante para o incremento da rentabilidade, tanto para os grandes quanto para os pequenos produtores rurais, favorecendo o desenvolvimento e a modernização das cadeias produtivas, e promovendo o acesso da população à produtos cada vez mais seguros, no âmbito da segurança alimentar, e, consequentemente, elevando os índices da qualidade de vida da população, especialmente, dos cidadãos menos favorecidos. E aí está a importância dos programas de erradicação, vigilância e prevenção contínua desta virose, a fim de conquistar ou manter o status de país livre da doença, com, e melhor, sem vacinação, favorecendo a manutenção e abertura de novos mercados consumidores da produção brasileira. Um outro aspecto importante da doença para a saúde pública é a sua condição de zoonose. No entanto, o homem apresenta uma susceptibilidade baixa, sendo considerado um hospedeiro acidental do vírus. Os casos raros relatados de infecção humana associaram-se com atividades profissionais ligadas à pecuária, como ordenhadores e manipuladores de carcaças, bem como a manipuladores do vírus, em laboratórios.
O calendário de vacinação para 2021 estabelecido pelo MAPA encontra-se disponível on-line, e pode ser acessado através do link https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/sanidade-animal-e-vegetal/saude-animal/programas-de-saude-animal/febre-aftosa/copy2_of_CalendriodeVacinao_2021.pdf. Relembro aos produtores, ainda, a obrigatoriedade de declarar a vacinação ao órgão de defesa sanitária animal do seu estado. Esta pode ser feita de forma on-line ou, presencialmente, nos postos designados pela vigilância sanitária, nos prazos estipulados.
A manutenção do compromisso dos produtores com a vacinação contribuirá para o fim das campanhas em 2023, como prevê o MAPA.

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