sexta-feira, 15 de maio de 2020

COVID-19: a consciência preventiva será um hábito?

Dra. Tatiani V. Harvey 
Médica Veterinária
Mestre e Doutora em Ciência Animal
Ênfase em Doenças Parasitárias
Esta epidemia, de fato, despertou ou reavivou a consciência sanitária de muitos cidadãos. Porém, quais os preceitos e qual será a parcela do aprendizado recebido, que vai perpetuar-se entre os nossos hábitos sociais e comportamentais em saúde? Será que esta consciência, realmente, resultará em mudança? 
Para prevenir verminoses, por exemplo, há anos tenta-se, sem a mesma publicidade dado ao coronavírus, difundir medidas preventivas tais como: lavar e cozinhar bem os alimentos; lavar as mãos antes das refeições; manter os alimentos e os depósitos de água cobertos; cortar e manter limpas as unhas; evitar andar descalço; beber água filtrada ou fervida; combater os insetos; lavar as mãos após tocar em animais, manusear terra, ou voltar de um passeio, etc. Medidas que têm sido negligenciadas, rotineiramente, por muitos cidadãos, incluindo pais de família, em todas as classes sociais. Na verdade, a manutenção da alta prevalência de verminoses no Brasil deve-se, em grande parte, a esta negligência. Ou seja, a população, até certo ponto, tomou consciência, mas não houve mudança. Entretanto, é possível que, agora, “a ficha tenha caído” e as pessoas tenham apreendido a importância da prevenção, realmente. 
A divulgação massiva de medidas preventivas contra a COVID-19 também servirá para a prevenção de outras doenças, incluindo as verminoses, especialmente pelo reforço da prática de lavar as mãos com frequência. E não é apenas este hábito que deve lembrado e incluído na rotina. Com esta crise, aprendemos ou reaprendemos a espirrar, a ter calçados para dentro e fora de casa, a lavar verduras e embalagens antes de serem armazenadas, a reforçar os hábitos de higiene de nossos filhos. Entendemos que limpeza não significa desinfecção, ou seja, aprendemos a limpar a casa de maneira segura e efetiva. De fato, esta crise foi a prova dos 9 para nossa consciência de higiene pessoal e coletiva. Mas, novamente, será que a consciência pode gerar mudança? 
Em termos de coletividade, percebemos o valor do comprometimento com a prevenção para proteger o outro. E aí incluo a compreensão sobre a importância da vacinação. E, além disso, não podemos esquecer que quando falamos em saúde coletiva estamos falando, também, das implicações da saúde animal sobre a saúde humana. Assim, para aqueles que se recordam de que a COVID19 possa ter sua origem a partir de um marcado de animais da China, espero que tenham captado a importância de manter os animais saudáveis e sem estresse para evitar a transmissão de zoonoses. 
Uma outra percepção importante gerada pela pandemia foi sobre a criação de animais silvestres. Afinal, fala-se muito em doenças transmitidas por cães e gatos, ou por alimentos de origem animal, mas pouco se fala em risco e transmissão de doenças por animais exóticos. 
Com certeza, todos sairão desta crise mais conscientes sobre a responsabilidade de cada um sobre a sua própria saúde e sobre a saúde do próximo. Mas, me pergunto se, realmente, ocorrerão mudanças, e sobre quanto tempo elas nortearão nossos novos hábitos. Se pensarmos na consciência que o povo tem sobre os problemas seculares causados pelo lixo, e que o mesmo continua no topo dos problemas de saúde pública mundial, desanimamos. O fato é que, desta vez, o medo e a insegurança bateram na porta de todos, e a mudança, aparentemente, poderá vir daí.

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