Primeiro trecho da Fiol, entre Caetité e Ilhéus, está 80% concluído e deve ser inaugurado até o ano de 2025, de acordo com previsão do governo federal (Divulgação ) |
(correio24horas.) Em 2011, os primeiros dormentes começavam a desenhar o caminho das locomotivas que devem impulsionar o desenvolvimento da Bahia pelas próximas décadas. Após dez anos de uma longa viagem, com algumas paradas inesperadas, a sigla Fiol começa a ganhar vida. O primeiro trecho da Ferrovia de Integração Oeste-Leste vai a leilão amanhã, às 14h, na B3, em São Paulo. Até 2035, a expectativa é que o trecho alcance movimentação anual de 50 milhões de toneladas por ano.
O vencedor do certame ficará responsável por concluir os 25% finais da obra e operar o trecho por 35 anos, totalizando R$ 3,3 bilhões de investimentos. Desse total, R$ 1,6 bilhão será utilizado para a conclusão das obras, que estão com 80% de execução. Além disso, a concessão da Oeste-Leste vai permitir a criação de 55 mil empregos diretos, indiretos e efeito-renda ao longo da concessão nos próximos anos.
A disputa pelos primeiros 537 quilômetros do corredor logístico entre o litoral de Ilhéus, no Sul, e Caetité, no Sudoeste, acontece com a garantia de pelo menos uma empresa interessada. Mineradora com um projeto pronto para produzir quase 20 milhões de toneladas de minério de ferro por ano, a Bamin é apontada como a grande favorita para arrematar o trecho 1 da Fiol. Alguns analistas de mercado acreditam que a mineradora pode ser a única participante do leilão.
Além da Bamin, figuram como possíveis interessadas a VLI, controlada pela Vale e maior operadora ferroviária do país, e a Rumo Logística, outra grande empresa do setor. Procuradas, todas as três empresas optaram pelo silêncio em relação ao leilão. A VLI respondeu que “como grande player do setor, a VLI avalia todas as oportunidades, mas prefere não comentar antecipadamente sobre nenhuma em específico”.
A Bamin é a dona do projeto Pedra de Ferro, que produzirá quase 20 milhões de toneladas de minério de ferro por ano, em Caetité, no interior da Bahia. Com a Fiol, a empresa vai escoar sua produção até Ilhéus e enviar o produto para o mercado externo pelo Porto Sul, que está sendo construído por ela e o governo da Bahia.
Projeto amplo
Para o ministro da Infraestrutura, o interesse da Bamin na operação da ferrovia é natural. Porém, acrescenta, o minério de ferro deve ser apenas um dos tipos de cargas que serão movimentadas. “No caso da Fiol, teremos um sistema com mina, ferrovia e porto, que é um clássico. Geralmente, como o minério de ferro está em alta e a gente tem uma mina importante, há um interesse por ter a conexão ferroviária. Obviamente, a ferrovia acaba sendo muito atrativa para quem é o dono da carga”, avaliou numa entrevista para a TV B3. “Mas é bom que se diga que é uma ferrovia de integração e este é o primeiro trecho”.
O ministro acredita que a ligação entre a Fiol e outros trechos de ferrovia, como a Norte-Sul, e a Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (Fico), vai fomentar a movimentação de grãos e também de cargas gerais. “Será um grande corredor de integração, que vai cortar a Bahia e Tocantins até a Norte-Sul e a Fico. De fato, é um projeto estruturante e que vai induzir novas cargas”, avalia.
O secretário nacional de Transportes Terrestres, Marcello Costa, diz que a viabilização do projeto é mais importante que uma grande disputa. Para ele, o fato de haver pelo menos uma empresa interessada no projeto já representa uma vitória. “Qual é o interesse da administração pública? Não é a outorga. Quanto mais competidores tiver, maior a outorga”, diz. “Mas é um benefício pequeno quando comparado à possibilidade de transmitir para a iniciativa privada a obrigação de investimentos de R$ 3 bilhões. Vamos antecipar a conclusão do projeto sem onegar o orçamento da união”, ressalta.
Ricardo Kawabi, gerente de estudos técnicos da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), acredita que o projeto integral da Fiol terá um grande impacto na economia brasileira. “Para a Bahia, este primeiro trecho já terá um impacto significativo. A ligação entre Caetité e Ilhéus já possui uma viabilidade econômica muito grande, com cargas disponíveis”, destaca Kawabi. “A gente aposta que isso vai dar um impulso grande para aquela região da Bahia”, projeta.
Kawabi acredita que a conjuntura econômica não deverá ter grande impacto no resultado do leilão. "Felizmente quem atua neste mercado tem um olhar de longo prazo", diz.
Infra Week
Num ambiente de piora das condições econômicas e no meio da pandemia de covid-19, o governo marcou uma bateria de leilões de aeroportos, portos e ferrovia para esta semana, entre hoje e a próxima sexta-feira (dia 9). As ofertas da Infra Week (semana da infraestrutura) podem render até R$ 10 bilhões em novos investimentos. Porém, contando outros leilões previstos para o mês, os investimentos podem ultrapassar os R$ 20 bilhões.
O ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, acredita que as concessões dos 22 aeroportos, cinco terminais portuários e o trecho da Fiol têm potencial para gerar 200 mil empregos diretos e indiretos. Ele projeta que todas as rodadas previstas para este ano devem permitir a geração de 2,9 milhões de postos de trabalho diretos e indiretos. E afirmou ainda que o objetivo do governo é arrecadar somente R$ 642 milhões em outorgas com a Infra Week.
O secretário nacional de Transportes Terrestres, Marcello Costa, acredita que o momento econômico não deve trazer prejuízos para as concessões. Ele cita como exemplo o caso da Fiol, cujo prazo do contrato é de 35 anos. “Por mais que tenhamos um problema mundial, são investimentos de longo prazo. No caso da Fiol, falamos de 35 anos. Ultrapassam e muito período de uma crise mundial”, lembra. “Lógico que crise faz priorizar investimentos, mas isso é oportunidade. Quem tem projeto bom sai na frente. Dinheiro continua lá, disponível para a aplicação”, destaca Costa.
Marcello Costa acredita que um evento como a Infra Week fará o Brasil chamar a atenção de um tipo diferente de investidor. “Você começa a chamar atenção para investidores que não vem ao Brasil para um ativo. Eles começam a olhar para fundos de logística”, avalia. “Essas empresas olham uma carteira de projetos”.
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